A constatação de que a cada 28 segundos um aluno
deixa a escola em algum país da América Latina
causou indignação entre os 250 participantes
da conferência "Ações de responsabilidade
social em educação" que terminou no fim
de semana, na Praia do Forte , na Bahia. Durante três
dias, um cronômetro marcou quantas crianças e
jovens deixaram os estudos naquele período, chegando
ao final, a um desconfortável número de 5,4
mil estudantes. Pior para os brasileiros foi saber que, pela
mesma estimativa, a cada hora, 31 alunos abandonam a sala
de aula.
Durante o encontro, que reuniu cerca de cem empresários,
além de ministros e especialistas de vários
países, o quadro apresentado foi sombrio. Muitos tomaram
conhecimento, pela primeira vez, que a região teve
os piores resultados em todos os exames globais de avaliação
sobre aproveitamento de alunos, e que os trabalhadores da
América Latina têm quase 1,5 ano a menos de escolaridade
que os de países com renda semelhante. Segundo as estatísticas,
cerca de 50% dos estudantes do Brasil saem da quarta série
como analfabetos funcionais, quase dois milhões de
jovens estão fora da escola e a escolaridade média
da população é de 4,9 anos.
O resultado da comoção pela situação
da educação para os representantes brasileiros
resultou em uma carta de intenções no fim da
conferência com a decisão dos empresários
de realizar ações em favor de um movimento chamado
"Compromisso Todos pela Educação".
O objetivo do grupo, que começou a atuar informalmente
há oito meses e reúne nomes conhecidos - Ana
Maria Diniz, Viviane Senna, Luiz Roberto Marinho, Milú
Vilela, entre outros - é mobilizar a sociedade para
ajudar a colocar todas as crianças e jovens brasileiros
na escola até 2022.
Mas não foram só os líderes brasileiros
que se animaram a colaborar com a melhoria do ensino na América
Latina após três dias de discussão. Os
ministros da Educação da Nicaragua e da Guatemala
e representantes da Costa Rica, El Salvador e Honduras decidiram
propor ao México a criação de uma rede
conjunta de televisão educativa para ser veiculada
nas escolas da América Central.
Cuidar da educação para os países latino-americanos
significa aumentar a competitividade econômica. Segundo
relatório apresentado pelo Programa de Promoção
da Reforma Educativa na América Latina e Caribe (Preal),
os trabalhadores da América Latina possuem escolaridade
mais baixa que no Leste Asiático e Europa Oriental.
"Assim vamos perder a corrida no mundo globalizado",
disse Jorge Paulo Lemann, da Fundação Lemann,
um dos organizadores da conferência junto com a Fundação
Jacobs e o grupo Gerdau.
"É preciso desenvolver competências em
gestão e este é o melhor elo de relação
entre as empresas e a educação", disse
Jorge Gerdau Johannpeter, do grupo Gerdau. Marcel Granier,
presidente do Conselho de Empresários da América
Latina (Ceal), da Venezuela, acredita que as falhas no sistema
educacional latino-americano estão resultando na falta
de formação de empreendedores.
O relatório do Preal indica que o problema da região
não está concentrado na falta de investimentos.
Na última década, o número de crianças
que ingressaram e concluíram o ensino fundamental e
médio na região aumentou mais rapidamente do
que em qualquer outra parte do mundo em desenvolvimento. "A
grande questão é a qualidade", diz Jeffrey
Puryear, representante do Preal.
"O desastre gerencial é uma das questões
centrais e nisso nós empresários podemos contribuir
transferindo conhecimento de gestão", diz Paulo
Cunha, do grupo Ultra. Para Gerdau, a transferência
pode ser feita " inserindo a educação na
pauta de investimentos, agindo de forma integrada com o governo,
outras empresas e organismos sociais e focando em programas
que favoreçam a melhoria da gestão dos sistemas
de ensino e capacitação de educadores".
"Os empresários recebem o produto bichado das
nossas escolas, por que não ajudar a consertar?",
provoca Cláudio de Moura e Castro, da Faculdades Pitágoras.
Stela Campos
As informações são do Valor Online.
A
cada 28 segundos, um jovem abandona a escola
Empresários se unem para propor ações
para melhoria da educação
Práticas
educativas são discutidas na Bahia
Articulação
entre poderes é definitiva para educação
Educação
brasileira é produto bichado
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