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iniciativa
02/08/2004
Ação ambiental indígena cresce no Cerrado

Do lado direito, está o rio Tocantins, que cruza a região Norte; do outro, grandes plantações de soja, cada vez mais presentes na paisagem. No meio, entre o sul do Maranhão e o norte do Tocantins, um pequeno grupo de indígenas leva informações sobre manejo ambiental para seus conterrâneos, ao mesmo tempo em que tenta convencer pequenos produtores rurais a permanecerem em suas terras.

Esse é o trabalho dos agentes ambientais do projeto “Frutos do Cerrado”, que existe há 11 anos e trabalha com o uso sustentável dos recursos naturais encontrados no bioma. O grupo tem o apoio do Centro de Trabalho Indigenista (CTI), com sede em Carolina (MA), e da Associação Vyty-Cati, que representa cinco povos timbira.

Em princípio, os agentes são escolhidos em suas tribos para acompanharem o plantio, a colheita e o pré-beneficiamento das frutas que serão levadas para a Fábrica FrutaSã, entidade sem fim lucrativo ligada ao projeto. A fábrica é especializada em polpa congelada de frutas tropicais, e a renda obtida é aplicada pela associação em seus próprios objetivos sociais.

“Os agentes são um elo entre a aldeia, a associação e a fábrica”, explica Jaime Siqueira, coordenador do projeto. A atividade é baseada no extrativismo e no plantio consorciado, que trabalha com várias espécies de árvores e que fornece colheita contínua ao longo do ano. Hoje, são recolhidas anualmente mais de 80 toneladas de frutas pela associação.

O trabalho dos agentes cresce no mesmo ritmo das pressões sofridas em suas terras. Atualmente, das 35 milhões de toneladas de soja produzidas no Brasil, 18 milhões saem do Cerrado, de acordo com a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). A procura por terras cultiváveis leva pequenos produtores que vivem no entorno das áreas indígenas a venderem suas terras e partirem para áreas urbanas. Entre 1991 e 2000, a taxa de urbanização da cidade de Carolina aumentou de 49% para quase 60%, segundo o Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil, elaborado pelo PNUD, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e a Fundação João Pinheiro.

Os agentes já atuam, de forma informal, no trabalho de convencimento desses pequenos proprietários. Em médio prazo, a intenção do CTI é transformar esses indígenas em técnicos, reconhecidos inclusive pelo Ibama, para promoverem soluções, fiscalizarem os limites das terras e diagnosticarem a situação ambiental. “Eles poderão mostrar aos donos de terras no entorno que vale mais a pena ficar e trabalhar de forma sustentável do que receber o dinheiro e ir para a cidade, onde muitas vezes é difícil arranjar emprego”, explica Siqueira.

Para tentar conter o avanço da soja na região, o centro propôs ao Ministério do Meio Ambiente, em julho, a formação do Parque Nacional de Carolina. Ele uniria as terras indígenas e ajudaria a estender o trabalho de exploração sustentável, já realizado pelas tribos, aos agricultores.

Preparação
As ações de capacitação dos agentes duram três ou quatro dias, com prática de manejo, poda de árvores, sistemas de plantio e beneficiamento. Também há cursos teóricos na sede da associação que duram de dez a 15 dias, quando uma série de questões técnicas é discutida entre os participantes.

Porém, é no dia-a-dia que os conhecimentos são consolidados. Os agentes aproveitam o intercâmbio cultural que já existe entre as tribos para transmitir e reter as informações sobre o manejo correto do bioma. “A intenção do projeto”, explica Jaime, “não é proibir práticas que fazem parte da tradição deles, como o uso do fogo, mas discipliná-los para reduzir os impactos e aumentar a produtividade”.

As atividades do projeto “Frutos do Cerrado” são apoiadas pelo Programa de Pequenos Projetos (PPP), do GEF (sigla em inglês para Fundo Global para o Meio Ambiente), do qual participam o PNUD, o Banco Mundial e o PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente).

 

CRISTINA AMORIM
da PrimaPagina

 
 
 

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