Prostituição
legalizada causa problemas na Holanda
Montes de burocracia
e a relutância das "profissionais" em se registrarem
estão causando dor de cabeá ao governo holandês,
que legalizou a prostituição no país.
O problema é
que agora as autoridades querem impor regras que nem sempre são
vistas de bom grado por quem está na atividade. Os proprietários
de bordéis queixam-se de regulamentações sem
sentido e custos adicionais. As prostitutas, por sua vez, reclamam
de que a lei que supostamente deveria ajudá-las até
agora serviu apenas para aumentar seus gastos, sem contar que não
conseguem contratar os serviços de contadores, bancos e empresas
de seguros de saúde não querem saber delas, por causa
do preconceito.
É certo
que o número de mulheres diminuiu. Muitas simplesmente abandonaram
a atividade porque não queriam perder o anonimato ao se registrarem
na polícia e pagarem impostos. Outras continuam na clandestinidade,
muitas vezes arriscando a sua segurança.
Ninguém
chegou ainda ao ponto de pedir a revogação da lei.
A maioria dos grupos de defesa das prostitutas considera que a longo
prazo a legalização dos bordéis surtirá
bons efeitos. Mas por enquanto muito pouco foi investido na informação
das prostitutas sobre como obedecer à lei e extrair benefícios
dela.
(Jornal
do Brasil)
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Riscos
burocráticos da prostituição
No saguão de seu bordel, Andre van Dorst amontoa
documentos sobre a mesa: da Secretaria de Saúde, da polícia,
do Imposto de Renda, do Ministério do Trabalho. ''Eles não
se cansam'', desabafa. ''Este aqui diz que as meninas têm
de lavar a roupa de baixo em água fervente. Este diz que
têm de cortar as unhas muito curtas. Por motivos de higiene,
claro. E somos obrigados a ter um travesseiro no quarto, o que é
um absurdo, pois se trata de uma arma mortal.'' Como tantos empresários,
Van Dorst tem uma bête noire: ''Esses burocratas não
se cansam de inventar normas, e não entendem nada do negócio.''
Há muito
a prostituição foi legalizada na Holanda, mas agora
o governo está tentando regulamentar a indústria.
Nove meses atrás, legalizou os bordéis. A nova lei
pretende ajudar a polícia a controlar melhor o mundo não
raro suspeito da prostituição - basicamente um negócio
de movimentação de dinheiro vivo que segundo a polícia
costuma ser usado para a lavagem de dinheiro, venda de armas e drogas
e a exploração freqüentemente brutal de prostitutas,
entre elas menores de idade e imigrantes ilegais. A lei deveria
assegurar às mais de 30 mil mulheres que trabalham no ramo
direitos trabalhistas, apólices de seguro e seguros-saúde.
Transição
- Mas a transição tem sido acidentada. A polícia
afirma que finalmente dispõe de meios para fazer uma limpa
na indústria do sexo. Mas os proprietários de bordéis
queixam-se de estarem sendo afogados em regulamentações
sem sentido e custos adicionais que podem levá-los à
falência. As prostitutas, por sua vez, reclamam de que a lei
que supostamente deveria ajudá-las até agora serviu
apenas para aumentar seus gastos.
A legalização
tampouco serviu para diminuir o preconceito em relação
ao negócio do sexo. As prostitutas que tentam estabelecer-se
por conta própria constatam que contadores, bancos e empresas
de seguros de saúde não querem saber delas. E certos
especialistas temem que a nova lei jogue muitas prostitutas na clandestinidade.
Entre elas, as que são imigradas em situação
ilegal, temerosas de serem expulsas da Holanda se se registrarem,
e cidadãs holandesas que não tomaram a coragem de
oficializar-se na atividade.
''Desde que
legalizamos os bordéis, tenho me perguntado sempre se fizemos
a coisa certa'', questiona-se a deputada Femke Halsema. ''Para mim,
era uma questão de emancipação das mulheres.
Mas por enquanto está funcionando em sentido inverso.''
Anonimato
- No ano passado, nove mulheres trabalhavam no bordel de Van Dorst,
que funciona atrás de sua sex-shop no centro comercial de
Peldoorn, a uma hora de carro de Amsterdam. Hoje, são apenas
duas, que cobram em torno de US$ 60 por encontro. Van Dorst fica
com cerca de US$ 20.
Uma das mulheres,
trabalhando com ele há cerca de 10 anos, diz que muitas prostitutas
simplesmente abandonaram a atividade porque não queriam perder
o anonimato ao se registrarem na polícia e pagarem impostos.
Outras, prossegue, continuam a vender sexo, mas de forma mais perigosa.
Põem anúncios em revistas e encontram-se com os clientes
em quartos de hotel. Para isto, precisam quase sempre comprar a
proteção de um proxeneta.
Ninguém
chegou ainda ao ponto de pedir a revogação da lei.
A maioria dos grupos de defesa das prostitutas considera que a longo
prazo a legalização dos bordéis surtirá
bons efeitos. Mas por enquanto muito pouco foi investido na informação
das prostitutas sobre como obedecer à lei e extrair benefícios
dela. ''É um verdadeiro caos'', diz Mariska Majoor, ex-prostituta
que dirige o Centro de Informação da Prostituição
em Amsterdam. ''Não está sendo bom para ninguém.
A maioria das prostitutas não tem a menor idéia sobre
como lidar com essa lei.''
A legalização
dos bordéis foi debatida durante quase duas décadas,
até ser adotada em outubro de 2000. Na década de 80,
o debate girava em torno dos argumentos feministas de libertação
das mulheres. Mas nos anos 90, com o crescimento da atividade, as
questões de observância das leis é que passaram
a prevalecer. ''O que aconteceu foi que o Ministério dos
Serviços Sociais passou a segundo plano e o Ministério
da Justiça assumiu um papel cada vez maior na aplicação
da lei'', diz Marieke van Doorninck, da Fundação A.
de Graaf de Pesquisa sobre a Prostituição. ''As condições
de trabalho nunca chegaram a merecer a ênfase que estava na
origem do projeto.''
(Jornal
do Brasil)
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