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Pagar
prestação em dia vale prêmios
Com o custo
acumulado nos financiamentos do comércio nos últimos
sete anos chegando a 56.252,18%, enquanto a inflação
medida pelo IPC da Fipe ficou em 43,35%, não é de
se admirar que as grandes redes de varejo estejam mimando como podem
quem paga suas prestações em dia.
A inadimplência
está mesmo alta: a Serasa, o cadastro nacional de crédito,
registrou um aumento de 78,7% nos títulos de pessoa física
protestados, durante os oito primeiros meses do ano, em relação
ao mesmo período em 2000.
Cada loja paparica
seus clientes "preferenciais" como pode: desde cafés
da manhã especiais, passando por refinanciamentos, descontos
nas parcelas e até mesmo pagando do próprio bolso
as últimas prestações.
(Gazeta
Mercantil)
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Redes
varejistas premiam os bons pagadores
Oitenta clientes
da Leader Magazine - uma das maiores redes de varejo do Rio, com
25 lojas - foram convidados para um café da manhã
em comemoração aos 10 anos da filial de Madureira
(Zona Norte carioca). O convite para brindar a data com os diretores
da empresa foi feito aos clientes mais assíduos no pagamento
de prestações, entre os 1,3 milhão de clientes
do cartão de compras da rede.
Em tempos de
alta das taxas de juros, aumento da inadimplência e desaquecimento
da economia, o varejo faz de tudo para mimar seus consumidores pontuais,
cada vez mais em falta nos cadastros das empresas. 'Aproveitamos
a ocasião do café da manhã para estreitar os
laços com os clientes mais importantes para nós: aqueles
que compram com a gente e que não atrasam as prestações',
diz o diretor-superintendente da Leader, Carlos Alberto Machado
Corrêa.
Vale tudo para
agradar o cliente adimplente. De cafés da manhã a
descontos em prestações. Há até quem
se ofereça para pagar a última prestação,
caso todas as anteriores tenham sido quitadas em dia. A DGM Eletro,
rede de eletroeletrônicos com 15 lojas no Rio, resolveu arcar
com recursos próprios as despesas do último compromisso
dos clientes. Para ter direito ao benefício é preciso
parcelar as compras em 12 vezes. 'O mote da promoção
é 'compre em 12 vezes e pague onze prestações'.
Nós pagamos a última parcela. É a melhor maneira
de estimular o consumidor a gastar mais em nossas lojas', diz o
diretor da rede, Marco Xavier.
Na Casas Bahia,
uma das maiores do segmento de móveis e eletrodomésticos
no País, com 293 lojas, o cliente que paga em dia, ou com
antecedência, ganha desconto. 'O consumidor bem tratado sempre
volta à loja. Se ele é um consumidor em dia com suas
obrigações, melhor ainda', afirma o gerente nacional
de crédito da Casas Bahia, Celso Amâncio. A mecânica
de descontos da rede é diferenciada pelo valor da compra
e pelo número de prestações. Um cliente com
compra parcelada em 15 vezes de R$ 43, por exemplo, chega a ganhar
até R$ 0,60 de desconto se quitar a prestação
antes da data de vencimento. O valor não é alto, mas
capaz de estimular a pontualidade e satisfazer o consumidor, sensibilizando-o
a voltar a comprar na loja.
A preocupação
das redes de varejo faz sentido. Segundo a Serasa, o cadastro nacional
de crédito, nos primeiros oito meses do ano, o número
de títulos de pessoa física protestados no País
cresceu 78,7%, na comparação com o mesmo período
do ano passado, o que comprova que a inadimplência está
alta. 'Sentimos um forte crescimento nos níveis de inadimplência
em nossa rede, nos últimos quatro meses. No início
do ano, o patamar era de 8% a 8,5%. Hoje, já chega a 10%',
afirma Xavier, da DGM, um dos poucos a admitir que começa
a perder o controle do 'calote' dos consumidores.
Para os especialistas,
a súbita alta da inadimplência tem explicação.
Os juros têm sido os maiores vilões. Estudo da Anefac
(Associação Nacional dos Executivos de Finanças
Administração e Contabilidade), concluído sexta-feira,
mostra que, de agosto de 1995 a agosto deste ano, o custo acumulado
nos financiamentos do comércio chegou a 56.252,18%, enquanto
a inflação medida pelo IPC da Fipe ficou em 43,35%,
representando uma variação de 129.662,81% entre os
índices. A mesma pesquisa da Anefac mostra que, além
de ter que arcar com taxas de juros cada vez mais salgadas, os prazos
dos financiamentos estão cada vez menores. Em janeiro de
2000, os prazos médios de financiamento no comércio
eram de 12 meses. Hoje, não passam de nove meses.
'O desaquecimento
da economia provoca um temor maior no comércio, que evita
alongar mais os prazos. É uma bola de neve. Quanto maior
a inadimplência, menores são os prazos e quanto menores
os prazos, mais dificuldades para o pagamento', analisa o consultor
Ricardo Cruz, da Analisys Consultoria.
Carnê
em dia aliado a novas compras também vem beneficiando o consumidor.
Na Casas Bahia, a segunda compra, dependendo do valor e do número
de prestações, refinancia a quantia que ainda não
foi paga da primeira aquisição. As cinco últimas
prestações de uma geladeira adquirida em 10 parcelas
de R$ 100, por exemplo, podem ser refinanciadas em dez vezes novamente,
caso uma outra compra parcelada tenha sido feita. 'Bom atendimento
e benefícios como estes geram a fidelização,
que é o maior bem que uma rede de varejo pode contar', diz
Amâncio. Na Casas Bahia, a estratégia vem dando certo.
Segundo Amâncio, dos 7 milhões de clientes ativos da
rede, 77% estão fidelizados, ou seja, compraram mais de uma
vez algum produto nas lojas.
É de
Amâncio, que também exerce o cargo de superintendente
de conselho da Associação Comercial de São
Paulo (ACSP), a polêmica idéia da criação
da lista de adimplentes, uma base de dados com o cadastro de quem
paga em dia suas prestações no comércio. Segundo
Amâncio, já existem redes de varejo testando o cadastro,
que terá caráter nacional. 'Até um parecer
jurídico, embasando a legalidade da listagem já foi
emitido pelo jurista Ives Gandra.'
O aumento da
inadimplência tem levado também as rede de varejo a
estabelecer critérios mais rígidos para a concessão
de crédito. A DGM Eletro já estuda aumentar o limite
de crédito para seus consumidores, que hoje varia de acordo
com o número de prestações assumidas. Na Casas
Bahia, o controle maior é sobre o cliente que empresta seu
nome a um terceiro. 'Estamos treinando nossos funcionários
para identificar este tipo de cliente e tentar fazê-lo desistir
de assumir um financiamento para outra pessoa que, por algum motivo,
não tem crédito na praça', diz Amâncio.
(Gazeta Mercantil)
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