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Serviços
públicos corroem renda do trabalhador e retomada econômica
Que o salário
médio real do brasileiro acumulou uma queda de 10% de 1998
a 2001 e continuou a cair neste início de 2002, muitos já
sabiam. No entanto, passa quase desapercebido que junto com isso,
o peso dos serviços públicos no orçamento familiar
dobrou desde o início do Plano Real. Isto é, o trabalhador
perdeu rendimento e ainda desviou parte da renda disponível
para a compra de bens para o pagamento das tarifas.
Esse duplo efeito
negativo é um empecilho a mais para a retomada da economia
neste início de 2002. A queda na renda, hoje, é muito
mais profunda que em 1999, quando o nível de atividade terminou
o ano em recuperação. Em 1999, o Produto Interno Bruto
(PIB) cresceu 0,54% e o rendimento médio real diminuiu 5,5
% segundo dados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE deflacionados
pelo INPC. Em 2000, a economia cresceu expressivos 4,4%, mas esse
crescimento apenas permitiu a manutenção da renda
(queda de 0,6% no ano). Em 2001, o rendimento médio real
acumulou queda de 3,8% e a perda se aprofundou em 2002. Nas projeções
da MB Associados, o rendimento médio real vai cair 3,3% este
ano.
As famílias
aumentaram as despesas com serviços públicos tanto
pela alta de preços como pela expansão dos serviços.
Em 1995, os serviços com preços administrados consumiam,
em média, 13,5% do orçamento familiar. Essa parcela
dobrou e somou 30,5 % no primeiro quadrimestre deste ano. Este percentual
inclui os gastos familiares em energia elétrica, telefonia
fixa e celular, taxas de água e esgoto, combustíveis,
passagens de ônibus, trem ou metrô, entre outros serviços
públicos. Esse comprometimento de 30% do orçamento
das famílias com o pagamento destes serviços reduziu
o espaço para o consumo de outros bens.
Leia
mais:
- Renda em queda e aumento das tarifas dificultam a
retomada
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Renda
em queda e aumento das tarifas dificultam a retomada
A renda disponível
para o consumo foi duplamente afetada nos últimos anos. O
salário médio real acumulou uma queda de 10% de 1998
a 2001 e continuou a cair neste início de 2002. Junto com
isso, o peso dos serviços públicos no orçamento
familiar dobrou desde o início do Plano Real. "O trabalhador
perdeu rendimento e ainda desviou parte da renda disponível
para a compra de bens para o pagamento das tarifas", observa
Cristiano Souza, economista da MB Associados.
Esse duplo efeito
negativo é um empecilho a mais para a retomada da economia
neste início de 2002. A queda na renda, hoje, é muito
mais profunda que em 1999, quando o nível de atividade terminou
o ano em recuperação. Em 1999, o Produto Interno Bruto
(PIB) cresceu 0,54% e o rendimento médio real diminuiu 5,5
% segundo dados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE deflacionados
pelo INPC.
Em 2000, a economia
cresceu expressivos 4,4%, mas esse crescimento apenas permitiu a
manutenção da renda (queda de 0,6% no ano). Em 2001,
o rendimento médio real acumulou queda de 3,8% e a perda
se aprofundou em 2002. Nas projeções da MB Associados,
o rendimento médio real vai cair 3,3% este ano.
"A retomada
hoje é mais difícil porque a economia já passou,
após o Plano Real, por quatro paradas", observa Monica
Baer, também da MB, listando as crises asiática, russa,
a desvalorização e finalmente a dupla racionamento-Argentina
no ano passado. "A queda na renda, neste início de ano,
está maior que o esperado", acrescenta.
As famílias
aumentaram as despesas com serviços públicos tanto
pela alta de preços como pela expansão dos serviços.
Em 1995, os serviços com preços administrados consumiam,
em média, 13,5% do orçamento familiar. Essa parcela
dobrou e somou 30,5 % no primeiro quadrimestre deste ano.
Este percentual
inclui os gastos familiares em energia elétrica, telefonia
fixa e celular, taxas de água e esgoto, combustíveis,
passagens de ônibus, trem ou metrô, entre outros serviços
públicos e de preços administrados incluídos
na Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) do IBGE e que serve
de base para o cálculo do Índice de Preços
ao Consumidor Ampliado (IPCA), segundo dados organizados pelo economista
Luis Afonso de Lima, do BBV Banco. O IBGE fez uma nova POF e por
isso há uma alta expressiva do peso dos serviços públicos
no ano de 1999, quando a pesquisa incorporou os novos hábitos
da população: celular, internet, mais famílias
com telefone fixo, etc.
"Este comprometimento
de 30% do orçamento das famílias com o pagamento destes
serviços reduziu o espaço para o consumo de outros
bens", observa Lima. "E os salários em queda reduzem
ainda mais esta disponibilidade", acrescenta.
Os gastos com
serviços públicos, explica o economista do BBV, são
considerados "inelásticos". "São bens
essenciais, é difícil reduzir o gasto com eles",
pondera.
O professor
Heron do Carmo, coordenador do Índice de Preços ao
Consumidor (IPC) da Fundação Instituto de Pesquisas
Econômicas (Fipe) da USP, observa que os preços destes
bens subiram muito acima da inflação. "E esse
maior comprometimento da renda com esses serviços criou uma
restrição adicional para o crescimento de outros setores
da economia", diz ele.
O IPCA acumula
uma alta de 81% desde 1994, informa Heron. "No mesmo período,
os preços administrados - sem considerar combustíveis
- subiram 198%", compara. Os produtos industrializados, por
outro lado, cresceram abaixo da inflação: 56,1% entre
1995 e o primeiro trimestre de 2002.
O "avanço"
destes serviços sobre a renda das famílias, observa
Heron, tem dois componentes: o preço, que subiu muito acima
da média da inflação, e a expansão dos
serviços. Em 1995, estavam em funcionamento 1,4 milhão
de celulares no país. Hoje, já são quase 30
milhões.
Em documento
distribuído aos clientes da MB, Souza, mostra que o ajuste
do mercado de trabalho está sendo feito mais pelo lado do
salário que pelo emprego. "Os trabalhadores vêm
recebendo rendimentos menores às custas da manutenção
de seus empregos", anotou o economista.
Para Souza,
dois acordos trabalhistas recentes deram prioridade ao emprego:
o primeiro, entre os metalúrgicos do ABC paulista e a Volkswagen,
e o outro entre bancários de São Paulo e Banespa-Santander.
Neste, para evitar demissões não ligadas ao Plano
de Demissão Voluntária (PDV), o sindicato negociou
um acordo com estabilidade por um ano e congelamento de salários
por três anos.
"Diante
da flexibilização dos contratos, o impacto do ajuste
recessivo se dá, essencialmente, pela queda do rendimento
e não do emprego", pondera Souza. Para ele, o ajuste
pelo salário pode permitir uma resposta mais rápida
da economia na época da retomada da atividade.
O problema,
argumenta Souza, é que a queda no rendimento e o conseqüente
declínio da massa de salários acaba criando um ciclo
'vicioso': a conjuntura recessiva provoca a queda no rendimento
e o menor poder de compra da população, por outro
lado, "retrai a demanda e deixa de estimular e economia".
Assim, sem renda,
mas com emprego, faltaria o "pontapé inicial".
"Isso poderia vir via crédito, mas com os juros em alta,
fica mais difícil", pondera Souza.
(Valor Econômico)
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