Peteca de palha de milho e penas, bolas de gude feitas de
barro, quebra-cabeça e até cama-de-gato, bilboquê
e jogos de estratégia. Esses são apenas alguns
exemplos dos 40 jogos e brinquedos que estão saindo
das aldeias indígenas e indo parar nas salas de aulas
de milhares de escolas do país. A iniciativa faz parte
do projeto "Jogos Indígenas", desenvolvido
pela empresa Origem, Jogos & Objetos que a partir de uma
ampla pesquisa e expedição a diversas aldeias,
buscou conhecer o universo lúdico dos índios.
A partir da segunda quinzena de agosto, o Departamento de
Educação para a Diversidade e Cidadania, da
Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização
e Diversidade (SECAD) do Ministério da Educação
(MEC), em parceria com a empresa responsável pela pesquisa,
dará início à distribuição
de cinco mil kits de jogos educativos para as 2.079 escolas
indígenas. O kit contém um livro infantil com
tabuleiro do jogo da onça e sementes para jogar, além
de um manual com as regras do jogo e os aspectos que o identificam
com o povo indígena que o criou. Mais 15 mil kits serão
distribuídos pela Secretaria de Educação
Básica para alunos do Ensino Fundamental. As escolas
que irão receber os jogos ainda não foram definidas.
Serão entregues também 500 cópias do
documentário produzido durante a expedição
às aldeias.
"A iniciativa vai enriquecer o trabalho dos professores,
valorizar as especificidades das escolas indígenas
e a cultura local de cada etnia. Além disso, certos
grupos étnicos poderão ter contato com as demais
culturas, o que é muito bom", comenta Márcia
Moares Blanc, técnica de Educação do
Departamento de Educação para a Diversidade
e Cidadania.
Mauricio Lima, um dos fundadores e diretor de Criação
e Desenvolvimento de Produtos Origem, Jogos & Objetos,
explica que a idéia do projeto surgiu porque, mesmo
após 15 anos pesquisando jogos de diversas partes do
mundo, não foram encontrados registros nas publicações
especializadas ou pesquisas mais aprofundadas sobre o assunto.
O projeto logo ganhou apoio da Sociedade Internacional para
Estudo de Jogos de Tabuleiro, o patrocínio da empresa
Bosch e a colaboração dos professores especializados
em jogos, Alex de Voogt, da Universidade de Leiden, na Holanda,
e Irving Finkel, do Museu Britânico de Londres, que
repassaram à equipe metodologias de levantamento de
campo e de análise de dados.
Em novembro de 2003, o grupo partiu para a aldeia dos Kamajurá,
no Parque do Xingú, seguindo para as aldeias do povo
Bororo, Pareci, Canela, Ticuna, Maioruna, Manchineri e Guarani,
nos Estados do Mato Grosso, Maranhão, Amazonas e Acre,
finalizando a expedição em São Paulo
no final de janeiro de 2004. De acordo com Mauricio Lima,
o grupo se surpreendeu com a riqueza e a diversidade das atividades
lúdicas dos índios e a grande criatividade dos
indígenas na adaptação de brinquedos
com utilização de recursos colhidos na região
ao redor da aldeia.
"Descobrimos que eles conheciam e ainda praticam jogos
que já desapareceram nas aldeias indígenas dos
Estados Unidos desde o século 18. O professor Irving
Finkel destacou isso como um tesouro nacional que merece ser
estudado e aprofundado", destaca Maurício.
Jogos de estratégia como o Adugo, anteriormente conhecido
pelo nome de Jogo da Onça e Cachorros, por exemplo,
foram encontrados em três das oito aldeias visitadas.
De origem Inca, o jogo depara qualidade com quantidade, e
possui versões na Índia, China e no Peru. "O
interessante é que na aldeia dos bororos foram os velhos
indígenas que lembraram do jogo, já esquecido,
e passaram a jogar. Esse é o lado mágico da
coisa", diz o pesquisador.
Jogos da sorte
A expedição comprovou ainda que os indígenas
conhecem e disputam "jogos da sorte", um fato que
nunca tinha sido registrado entre os índios brasileiros
anteriormente. Os Pareci, da aldeia Formoso, no Mato Grosso,
praticam um jogo o de dados denominado Rifa, com dado em formato
de pião. A principal característica de todos
os jogos praticados pelos Pareci é a aposta, em que
eles fazem trocas de mercadorias, como arcos e flechas, cestarias
ou comidas.
Já os Canela, da aldeia Escalvado, no Maranhão,
conhecem um quebra-cabeça que é considerado
um clássico pela simplicidade da idéia e engenhosidade
da solução. Os indígenas chamam o quebra-cabeça
pelo nome de Ihkã Cahhêc Xá, mas ele é
mais conhecido por Anel Africano. Trata-se de um desafio que
deu origem a centenas de outros quebra-cabeças em todos
os continentes.
Em cada aldeia, os pesquisadores encontraram uma realidade
distinta frente à influência da cultura dos brancos.
Maurício Lima ressalta que, em algumas aldeias instaladas
próximas às grandes cidades, muitas brincadeiras
antigas deram espaço agora à televisão
ou aos jogos modernos. Já em regiões mais isoladas,
como na Amazônia, os índios Ticunas, da aldeia
Vendaval, preservam a prática de jogos e brincadeiras
tradicionais entre crianças e jovens. "Quando
chegamos na aldeia, na beira do rio Solimões, os índios
estavam brincando e até disputando campeonato de bilboquê.
Ou seja, não era só um brinquedo, mas sim um
jogo, com regras. Não precisamos nem fazer uma interferência",
afirma Mauricio Lima.
A expedição encontrou ainda outras brincadeiras,
como pular corda, batalha de pião, perna de pau, estilingue
e dobraduras, além de jogos semelhantes ao boliche
que é praticado apenas por mulheres, ou a bocha, onde
os índios arremessam varas de madeira na tentativa
de conseguir uma aproximação entre elas.
Peça de museu
De acordo com Maurício Lima, há ainda muito
a se pesquisar, já que no Brasil se existem aproximadamente
200 etnias. Por isso, a proposta é buscar um novo patrocinador
e dar continuidade ao projeto. Algumas réplicas dos
brinquedos e jogos serão doadas para museus nacionais
e internacionais. Em 2005, a empresa irá lançar
uma coleção com cerca de 20 brinquedos e jogos
indígenas, adaptados ao mercado, para serem comercializados
nas lojas da Origem e também como brindes para empresas.
O livro e o documentário do projeto já estão
à venda. Os interessados poderão ainda conferir
alguns brinquedos e jogos, a partir do dia 3 de agosto, em
uma exposição na Casa dos Sonhos Estrela, em
São Paulo.
Exposição - Casa dos Sonhos Estrela
Av. República do Líbano, 501, São Paulo
Visitas: aos sábados das 14h às 16h45 e das
17h15 às 20h. Aos domingos das 10h30 às 13h15
e das 14h30 às 16h45.
Preço: R$ 10,00 (adultos). Crianças até
10 anos não pagam
É necessário fazer reserva pelo telefone: (11)
3887-2065
Empresa Origem, Jogos & Objetos
Endereço 1: rua Guajajaras, nº 2.012, Barro Preto,
Belo Horizonte/MG
Telefax: (31) 3295-4757
E-mail: origem@origem.com.br
Endereço 2: rua Pais de Araújo, nº 184,
Itaim Bibi, São Paulo/SP
Telefax: (11) 3079.2794
E-mail: origemsp@origem.com.br
Site: www.jogosindigenasdobrasil.art.br/port/default.asp
As informações são
do site Setor3.
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