HOME | COLUNAS | SÓ SÃO PAULO | COMUNIDADE | CIDADÃO JORNALISTA | QUEM SOMOS
 
 

aula diferente
09/08/2004
Jogos indígenas saem das aldeias e invadem milhares de escolas

Peteca de palha de milho e penas, bolas de gude feitas de barro, quebra-cabeça e até cama-de-gato, bilboquê e jogos de estratégia. Esses são apenas alguns exemplos dos 40 jogos e brinquedos que estão saindo das aldeias indígenas e indo parar nas salas de aulas de milhares de escolas do país. A iniciativa faz parte do projeto "Jogos Indígenas", desenvolvido pela empresa Origem, Jogos & Objetos que a partir de uma ampla pesquisa e expedição a diversas aldeias, buscou conhecer o universo lúdico dos índios.

A partir da segunda quinzena de agosto, o Departamento de Educação para a Diversidade e Cidadania, da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD) do Ministério da Educação (MEC), em parceria com a empresa responsável pela pesquisa, dará início à distribuição de cinco mil kits de jogos educativos para as 2.079 escolas indígenas. O kit contém um livro infantil com tabuleiro do jogo da onça e sementes para jogar, além de um manual com as regras do jogo e os aspectos que o identificam com o povo indígena que o criou. Mais 15 mil kits serão distribuídos pela Secretaria de Educação Básica para alunos do Ensino Fundamental. As escolas que irão receber os jogos ainda não foram definidas. Serão entregues também 500 cópias do documentário produzido durante a expedição às aldeias.

"A iniciativa vai enriquecer o trabalho dos professores, valorizar as especificidades das escolas indígenas e a cultura local de cada etnia. Além disso, certos grupos étnicos poderão ter contato com as demais culturas, o que é muito bom", comenta Márcia Moares Blanc, técnica de Educação do Departamento de Educação para a Diversidade e Cidadania.

Mauricio Lima, um dos fundadores e diretor de Criação e Desenvolvimento de Produtos Origem, Jogos & Objetos, explica que a idéia do projeto surgiu porque, mesmo após 15 anos pesquisando jogos de diversas partes do mundo, não foram encontrados registros nas publicações especializadas ou pesquisas mais aprofundadas sobre o assunto. O projeto logo ganhou apoio da Sociedade Internacional para Estudo de Jogos de Tabuleiro, o patrocínio da empresa Bosch e a colaboração dos professores especializados em jogos, Alex de Voogt, da Universidade de Leiden, na Holanda, e Irving Finkel, do Museu Britânico de Londres, que repassaram à equipe metodologias de levantamento de campo e de análise de dados.

Em novembro de 2003, o grupo partiu para a aldeia dos Kamajurá, no Parque do Xingú, seguindo para as aldeias do povo Bororo, Pareci, Canela, Ticuna, Maioruna, Manchineri e Guarani, nos Estados do Mato Grosso, Maranhão, Amazonas e Acre, finalizando a expedição em São Paulo no final de janeiro de 2004. De acordo com Mauricio Lima, o grupo se surpreendeu com a riqueza e a diversidade das atividades lúdicas dos índios e a grande criatividade dos indígenas na adaptação de brinquedos com utilização de recursos colhidos na região ao redor da aldeia.

"Descobrimos que eles conheciam e ainda praticam jogos que já desapareceram nas aldeias indígenas dos Estados Unidos desde o século 18. O professor Irving Finkel destacou isso como um tesouro nacional que merece ser estudado e aprofundado", destaca Maurício.

Jogos de estratégia como o Adugo, anteriormente conhecido pelo nome de Jogo da Onça e Cachorros, por exemplo, foram encontrados em três das oito aldeias visitadas. De origem Inca, o jogo depara qualidade com quantidade, e possui versões na Índia, China e no Peru. "O interessante é que na aldeia dos bororos foram os velhos indígenas que lembraram do jogo, já esquecido, e passaram a jogar. Esse é o lado mágico da coisa", diz o pesquisador.

Jogos da sorte
A expedição comprovou ainda que os indígenas conhecem e disputam "jogos da sorte", um fato que nunca tinha sido registrado entre os índios brasileiros anteriormente. Os Pareci, da aldeia Formoso, no Mato Grosso, praticam um jogo o de dados denominado Rifa, com dado em formato de pião. A principal característica de todos os jogos praticados pelos Pareci é a aposta, em que eles fazem trocas de mercadorias, como arcos e flechas, cestarias ou comidas.

Já os Canela, da aldeia Escalvado, no Maranhão, conhecem um quebra-cabeça que é considerado um clássico pela simplicidade da idéia e engenhosidade da solução. Os indígenas chamam o quebra-cabeça pelo nome de Ihkã Cahhêc Xá, mas ele é mais conhecido por Anel Africano. Trata-se de um desafio que deu origem a centenas de outros quebra-cabeças em todos os continentes.

Em cada aldeia, os pesquisadores encontraram uma realidade distinta frente à influência da cultura dos brancos. Maurício Lima ressalta que, em algumas aldeias instaladas próximas às grandes cidades, muitas brincadeiras antigas deram espaço agora à televisão ou aos jogos modernos. Já em regiões mais isoladas, como na Amazônia, os índios Ticunas, da aldeia Vendaval, preservam a prática de jogos e brincadeiras tradicionais entre crianças e jovens. "Quando chegamos na aldeia, na beira do rio Solimões, os índios estavam brincando e até disputando campeonato de bilboquê. Ou seja, não era só um brinquedo, mas sim um jogo, com regras. Não precisamos nem fazer uma interferência", afirma Mauricio Lima.

A expedição encontrou ainda outras brincadeiras, como pular corda, batalha de pião, perna de pau, estilingue e dobraduras, além de jogos semelhantes ao boliche que é praticado apenas por mulheres, ou a bocha, onde os índios arremessam varas de madeira na tentativa de conseguir uma aproximação entre elas.

Peça de museu
De acordo com Maurício Lima, há ainda muito a se pesquisar, já que no Brasil se existem aproximadamente 200 etnias. Por isso, a proposta é buscar um novo patrocinador e dar continuidade ao projeto. Algumas réplicas dos brinquedos e jogos serão doadas para museus nacionais e internacionais. Em 2005, a empresa irá lançar uma coleção com cerca de 20 brinquedos e jogos indígenas, adaptados ao mercado, para serem comercializados nas lojas da Origem e também como brindes para empresas. O livro e o documentário do projeto já estão à venda. Os interessados poderão ainda conferir alguns brinquedos e jogos, a partir do dia 3 de agosto, em uma exposição na Casa dos Sonhos Estrela, em São Paulo.

Exposição - Casa dos Sonhos Estrela
Av. República do Líbano, 501, São Paulo
Visitas: aos sábados das 14h às 16h45 e das 17h15 às 20h. Aos domingos das 10h30 às 13h15 e das 14h30 às 16h45.
Preço: R$ 10,00 (adultos). Crianças até 10 anos não pagam
É necessário fazer reserva pelo telefone: (11) 3887-2065

Empresa Origem, Jogos & Objetos
Endereço 1: rua Guajajaras, nº 2.012, Barro Preto, Belo Horizonte/MG
Telefax: (31) 3295-4757
E-mail: origem@origem.com.br

Endereço 2: rua Pais de Araújo, nº 184, Itaim Bibi, São Paulo/SP
Telefax: (11) 3079.2794
E-mail: origemsp@origem.com.br
Site: www.jogosindigenasdobrasil.art.br/port/default.asp

As informações são do site Setor3.

   
 
 
 

NOTÍCIAS ANteriores
09/08/2004 Brasil quer intercâmbio docente com África
06/08/2004
Investimento em educação cai 58% desde 95
06/08/2004
Concurso irá premiar projetos de reciclagem de materiais em PET
06/08/2004 Falta de recursos afeta funcionamento de universidades
06/08/2004 Desemprego é desgraça, mas brasileiro não desiste, diz Lula
06/08/2004 Bilhete gratuito para idoso volta a vigorar
05/08/2004 Desemprego afeta mais escolaridade média
05/08/2004 Publicação analisa relação dos povos indígenas com a educação no Brasil
05/08/2004 Estados pedem ao MEC recursos para ensino médio
05/08/2004 País reduz número de pobres de 1992 a 2002