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17/10/2003
Em 10 anos, desempregados com 3º grau aumentam 120%

O número de brasileiros desempregados que estudaram 15 anos ou mais, atingindo o terceiro grau do ensino, cresceu 120,7% na última década. Esse é um dos dados contidos no estudo O ciclo da financeirização e a nova polarização social, divulgado nesta quarta-feira, pela Secretaria do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade, do município de São Paulo. A pesquisa revela ainda como diminuiu o percentual de famílias da classe média, na comparação com o crescimento populacional do país, como conseqüência da política econômica adotada no período.

Em 1992, aqueles desempregados com curso superior completo ou para ser completado eram 92.564. Em 2001, somavam 204.312 brasileiros, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nos quais a pesquisa foi baseada. Enquanto isso, os desempregados analfabetos aumentaram de 407.561 para 494.318 no mesmo período, crescimento de 21,3%, pequeno em relação à alta registrada na camada populacional que atingiu o terceiro grau escolar.

Em 1992, para cada quatro desempregados analfabetos, havia um desempregado universitário. Agora, a proporção é de cinco desempregados analfabetos para dois universitários - afirmou o secretário do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade, Márcio Pochmann.

Essa situação, de acordo com o secretário, está intimamente ligada com o que ele chama de ciclo de financeirização da economia brasileira, iniciado no começo da década passada, quando os ganhos do capital (basicamente, lucros e juros) foram privilegiados em detrimento da renda do trabalho, que perdeu participação no Produto Interno Bruto (caiu de 44% do PIB, em 1992, para 36% em 2002).

Com os ganhos do capital, que se manteve em 45% do PIB na última década, prevalecendo sobre o trabalho, o crescimento do país não poderia ter sido suficiente para absorver os 2,87 milhões de universitários que entraram no mercado de trabalho, o que levou muitos a buscarem ocupação em empregos que exigiam qualificação inferior à obtida na faculdade.

Aqueles com curso superior que trabalhavam em atividades abaixo de sua qualificação somavam 425,3 mil, em 2001. Desses, 81,2 mil (19%) eram açougueiros ou empregadores na indústria alimentícia. Droguistas, floristas, galinheiros, lenheiros, peixeiros e sorveteiros, com ensino superior, eram mais de 75 mil (17,8%). Mais de 53 mil com curso universitário (12,6%) desempenhavam as funções de atendentes e recepcionistas. Entre 1992 e 2001, 2,050 milhões conseguiram emprego na área em que se graduaram, e 111.748 formaram um exército de desempregados qualificados.

A população entendeu que era importante estudar e cumpriu o seu papel. Nunca tivemos tantos universitários. Todavia, há um problema de ocupação. A economia não cresce e parte da renda do país estão direcionada para aplicações financeiras, mais seguras do que os investimentos na produção. Assim, falta emprego. O maior número de vagas geradas não requer elevado grau de instrução. Contraditoriamente, os empregadores exigem mais qualificação como requisito para fazer contratações - afirmou Pochmann, salientando que são poucas as vagas geradas para o trabalhador qualificado porque a economia do país não cresce.

Diante desse quadro econômico, em que até os trabalhadores com ensino superior têm dificuldades para obter emprego, seja na sua área e em ocupações abaixo de sua qualificação, Pochmann demonstra que isso afetou diretamente a classe média brasileira, que encolheu na última década. Enquanto a população cresceu 16,2% entre 1992 e 2001, o número de pessoas vivendo em famílias de classe alta (renda familiar per capita acima de R$ 594) cresceu no mesmo ritmo (18,3%). Entretanto, a população da classe média (renda familiar per capita entre R$ 148 e R$ 594) aumentou apenas 12,6%. Já a classe baixa (R$ 148 per capita) teve crescimento de 18,8%.

Esse crescimento da classe média foi, portanto, abaixo do crescimento populacional, o que significa o encolhimento da classe média. Houve uma polarização. É o que os ingleses chamavam de two worlds, o mundo dos pobres e dos ricos. A classe média, que colaborou para reduzir os conflitos sociais durante o ciclo de industrialização (1930-1980), com a geração de uma nova classe consumidora, agora está regredindo, com uma sociedade ocupada cada vez mais pelo trabalho com baixa remuneração - concluiu Pochmann.

Comparando-se os anos de 1992 a 2001, percebe-se que, enquanto 27,5% dos assalariados com carteira recebiam menos de dois salários mínimos no início da década de 90, este percentual atingia 47% no início desta década. Dos 11,5 milhões de postos de trabalho gerados no período, dois terços eram de trabalhadores domésticos, sem carteira ou autônomos. O outro um terço se distribuiu entre os assalariados com carteira, funcionários públicos e empregadores.

As informações são do jornal O Popular.

   
 
 
 

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