Carolina
Lopes
Erika Vieira
Ontem a cidade de São Paulo concentrou pessoas de
todo Brasil e de outros países para participarem na
sede do Parlatino (Memorial da América Latina)da Consulta
Nacional sobre Violência contra a Criança e o
Adolescente.
O evento reuniu estudiosos em vários âmbitos
da violência e profissionais que trabalham para combatê-la.
Dentre os assuntos discutidos a violência comunitária
ganhou destaque especial com participação de
integrantes da ONU, UNICEF, USP, ONGs e do Governo Federal.
O centro do debate sobre a violência que acontece dentro
da comunidade foi o jovem. A coordenadora do Programa de Redução
e Demanda de Drogas da UNODC (Escritório das Nações
Unidas contra Drogas e Crime), Cíntia Freire, apresentou
dados os quais mostram que 40% dos jovens que morreram em
2002 com idade entre 15 e 29 anos foram vitimas de arma de
fogo. Em função disso, a ONU criou um Conselho
Social que determina aos governos diretrizes para a prevenção
da violência. A diretriz prevê programas sociais
na área de saúde, educação, geração
de renda, etc, além de penas alternativas e promoção
da cultura da tolerância.
A violência gera ao país uma perda de 10,5%
em relação ao PIB (Produto Interno Bruto). O
grande responsável pela morte entre os jovens é
a droga. Pesquisa realizada pelo UNODC levantou que os adolescentes
começam a usar solventes e cocaína em torno
dos 14 anos. Já o álcool é consumido
mais cedo, 41% dos estudantes entre 10 e 12 anos experimentaram
bebida alcoólica pelo menos uma vez na vida, sendo
que 5,2% dos jovens de 12 a 17 anos são dependentes
de álcool no país, segundo informações
do SENAD (Secretaria Nacional Anti-Drogas). Dentro desse quadro
as meninas estão superando o uso de bebidas e ansiolíticos
(medicamentos) em relação aos meninos.
Em função desses índices alarmantes
a Secretaria Nacional da Juventude criou o Projovem, programa
a fim de resgatar os alunos que deixaram a escola (grande
parte abandonou os estudos por causa das drogas) através
de trabalhos de correção e de prevenção.
A diretora de prevenção e tratamento da SENAD,
Paulina Duarte, diz que a prevenção só
pode ser feita por meio de políticas públicas,
promoção da saúde, prevenção
universal e seletiva, reincerção social e cumprir
o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente).
O Núcleo de Estudos e Violência da Universidade
de São Paulo também participou da discussão
sendo representado pela professora Nancy Cárdia, que
pesquisou o tema desde dos anos 80 até 2002. Ela declara
que desde a década de 80 não houve melhora relevante
nos índices de homicídio no país. A taxa
oficial de homicídio em São Paulo é de
160 para cada 100 mil habitantes, sendo que a média
nacional é de 200 para cada 100 mil. Porém,
a professora afirma que a cidade de São Paulo ultrapassa
a média nacional, e que as pesquisas realizadas não
são confiáveis.
Mudando essa realidade
A violência apresenta altos índices
dentro das comunidades, especialmente entre os jovens brasileiros.
Foi percebendo isso que a cidade de Manaus resolveu agir para
combater essa situação. A Secretaria de Segurança
propôs a policia da cidade que elaborasse um programa
que agisse no foco da violência que acontecia principalmente
de madrugada. Foi então que surgiu o “Galera
Nota 10”, dirigido pelo delegado João Paulo Afonso.
Galera Nota 10 é um programa que incentiva os jovens
a deixarem as ruas e irem praticar atividades esportivas durante
a noite. Há parceria entre educadores e policiais que
trabalham sem farde e desarmados, ao todo são 88 profissionais
que preferiram substituir a punição pela prevenção.
Com isso, houve uma redução de 70% na taxa de
criminalidade de Manaus. Hoje o Galera Nota 10 já atua
em quatro pontos da cidade.
Essa iniciativa foi baseada na proposta implantada em Nova
Iorque, no bairro do Brooklin, em que as quadras de basquete
ficam abertas à noite. Algo parecido é feito
em Brasília que tem o “Esporte a meia-noite”.
As ONGs também optaram por agir contra a violência,
como é o caso da Lua Nova que auxilia mães que
por estarem em situação de risco (morando na
rua, condição de prostituição,
envolvimento com drogas, etc) perderam a guarda dos filhos.
A organização acolhe essas mães a trabalha
para inseri-las novamente na comunidade.
A Lua Nova estabelece parceria com o público alvo,
não oferecendo apenas ajuda assistencialista. Os princípios
adotados são de responsabilizar o jovem pelo processo
de transformação social, potencializando-os
como agentes comunitários para que ele venha a viver
de seu próprio empreendimento.
”Fazemos coisas para criar multiplicadores, para que
o jovem não volte para a ONG e sim saia de lá
e continue fazendo algo para seu futuro. Se tiver articulação
a violência deixa de existir. A grande violência
é a gente que faz por não ter articulação”,
diz Raquel Barros, representante da Lua Nova.
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