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economia
26/03/2004
Lula diz que Brasil não renova acordo com FMI, mas "sem gritaria"

BRASÍLIA - Na primeira conversa com jornalista depois do caso Waldomiro Diniz, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse estar certo da retomada do crescimento econômico do país este ano, tanto que, revelou, o Brasil não vai renovar o acordo com o Fundo Monetário Internacional. Mas vai sair do FMI "sem gritaria, sem estardalhaço, naturalmente" e avaliou que "o pior já ficou para trás".

E mesmo diante da pressão dos próprios aliados, mais uma vez referendou a política econômica comandada pelo ministro Antonio Palocci, garantindo que o rumo está certo e dele não vai se afastar "nem meio milímetro". As afirmações do presidente foram feitas em conversa com o comentarista de política da Rede Globo, Franklin Martins, na manhã de quinta-feira e revelada no Jornal Nacional. Aparentando tranqüilidade e estar à vontade no comando do governo, Lula fez elogios aos ministro José Dirceu e foi categórico: "Dirceu fica no ministério".

O presidente Lula reconhece que a questão de desemprego é a que mais preocupa porque, segundo disse ao jornalista, a retomada do emprego é a última coisa que aparece quando acontece a retomada do crescimento. E, numa demonstração de que tem a paciência necessária para aguardar os resultados, ele fez uma comparação:

“É preciso não se afobar. É como a dona de casa preparando a ceia de Natal. Como a comida sai mais tarde, as crianças começam logo a reclamar. O que ela deve fazer? Ficar nervosa, largar a cozinha e deixar o peru queimar no forno? Não, ela deve fazer bem feita a ceia de Natal. Depois, na mesa, todo mundo vai elogiar” .

Na conversa, em que fumou duas cigarrilhas e tomou duas xícaras de café (pequenas, disse ele, para reduzir o café à metade), o presidente Lula avaliou que a crise política decorrente do episódio Waldomiro Diniz foi inchada pela oposição. E contou que lera a reportagem da revista Época - com a denúncia de que o ex-assessor parlamentar da Casa Civil pedira propina a um empresário de loterias - às 10 e meia da manhã e ao meio dia, "o sujeito já estava demitido" e a investigação aberta. Portanto, concluiu o presidente, o governo fez o que era preciso fazer.

“O resto é com o Congresso. A oposição tem todo o direito de pedir CPI. Afinal, o PT quando estava na oposição, não pedia?”

O presidente Lula fez muitos elogios ao ministro José Dirceu, afirmando que ele fizera "um trabalho extraordinário" na articulação política e foi decisivo para o sucesso do governo no primeiro ano do mandato. Mas admitiu:

“Mas ele sentiu o caso Waldomiro; isso mexeu com as entranhas dele" - reconheceu o presidente, admitindo o abatimento do ministro com a repercussão do caso.

Lula considerou compreensível a reação de José Dirceu e procurou mostrar que isso é normal quando alguém honesto sofre qualquer tipo de acusação, ainda que indireta - com o escândalo de seu ex-assessor, Waldomiro Diniz.

“Quando um ladrão é envolvido num episódio como esse, no dia seguinte ele dá entrevista na televisão, rindo. Mas para uma pessoa honesta, é uma situação terrível, ainda mais porque atingiu o filho dele”.

Mesmo com os elogios, o presidente Lula, na conversa com Franklin Martins, reconheceu que o ministro José Dirceu "andou falando mais do que devia" e citou como exemplo a entrevista ao jornalista Merval Pereira, colunista de O Globo, na qual fez críticas aos governadores de Minas, Aécio Neves, e de São Paulo, Geraldo Alckmin. O presidente afirmou que os governadores não fazem nada de errado quando pedem recursos à União, pois é assim que acontece: a população cobra dos prefeitos, os prefeitos cobram dos governadores e os governadores cobram da União. E usando exemplos de articuladores políticos de governos passados, o presidente disse ter dado um conselho ao ministro José Dirceu:

“O governo não precisa do bateu-levou do Collor ou do trator do Sérgio Motta no governo Fernando Henrique. Precisa é de governar e Dirceu é uma peça chave nesse esquema. O debate fica para os partidos no Congresso”.

O presidente Lula fez questão de mostrar a unidade do governo, afirmando que "não existe esse negócio de jogar um contra o outro; de Dirceu puxar o tapete do Palocci ou vice-versa".

“Quando há uma divergência, isso se resolve naquela mesa ali, disse, apontando para a mesa de reuniões do gabinete no terceiro andar do Palácio do Planalto. Discute-se, quebra-se o pau, mas quando a reunião acaba, a decisão é de governo", disse, no Jornal Nacional da Rede Globo.

Depois de citar muitos projetos do governo, inclusive a construção de 40 mil casas para substituir palafitas em todo o país, o presidente Lula disse que nunca se sentiu tão bem na vida e revelou que tem feito caminhadas de 45 minutos na esteira, diariamente, e que a pressão arterial está ótima: 11 por sete. Reconheceu que continua fumando cigarrilhas, mas prometeu largar o vício.


CRISTIANA LÔBO
do jornal O Globo


RODRIGO COELHO
da BBC Brasil

   
 
 
 

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