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09/02/2004
Repetência e evasão caem na gestão Marta

A evasão escolar na rede municipal de ensino de São Paulo caiu quase pela metade entre 2000 -último ano da gestão Celso Pitta (PSL)- e 2003. Segundo dados preliminares da Secretaria Municipal da Educação, o índice passou de 2,15% para 1,13% desde o início da administração Marta Suplicy (PT) na prefeitura.
No mesmo intervalo, o percentual de aprovados no final dos dois ciclos (5ª e 8ª séries) subiu de 94,67% para 96,69%.

O período foi marcado, na rede municipal de ensino, pela introdução dos chamados programas de educação inclusiva -distribuição gratuita de uniforme e material escolar, além de transporte em vans para crianças de baixa renda que tenham de se deslocar mais de 2 km para chegar à escola. Também houve reforço na merenda -as escolas passaram a servir até almoço.

Especialistas elogiam o alcance social dos programas, mas questionam sua eficácia na melhoria do ensino. Nem a secretária municipal da Educação, Maria Aparecida Perez, relaciona diretamente a queda da evasão e da repetência aos programas. "É resultado de todo um conjunto de ações desenvolvidas pela secretaria", afirma.

Para os críticos, os programas consomem recursos que poderiam ser aplicados em áreas mais voltadas ao aprendizado, como a capacitação de professores.

Ao lados dos CEUs (Centros Educacionais Unificados), os programas inclusivos já ganharam destaque em propagandas da prefeitura na televisão e viraram referência da administração Marta.

Educação é a área mais bem avaliada da gestão da prefeita. Segundo pesquisa Datafolha feita em dezembro, 34% dos paulistanos consideram que esse é o setor no qual ela vem se saindo melhor.

Material escolar e uniforme -programas que, juntos, consumiram R$ 38,9 milhões em 2003- são oferecidos a todos os 850 mil alunos do ensino infantil e fundamental, assim como a merenda. Já o Vai-e-Volta, como é chamado o sistema de transporte em vans, atende cerca 102 mil crianças e custou R$ 69,1 milhões no ano passado. Juntos, os novos programas custaram R$ 108 milhões -cerca de 4% das despesas da Secretaria da Educação.

Para o presidente do sindicato dos professores e funcionários da rede municipal, Ismael Nery Palhares, muitos alunos que necessitam do transporte continuam excluídos. "Em alguns casos, em uma mesma casa há uma criança atendida e outra não."

A secretária Perez diz que os mais necessitados são atendidos. "Se a gente for ver por demanda, 1 milhão de crianças querem o transporte." Ela afirma que um recadastramento está sendo feito e que possíveis distorções poderão ser corrigidas neste ano.

Entre os programas, o mais polêmico é a distribuição universal de uniformes. Educadores ouvidos Folha avaliam que há outras prioridades. "A situação na rede municipal não está às mil maravilhas. Há criança que fica sem aula por falta de professores de determinadas matérias", afirma a pesquisadora Maria Malta Campos, da Fundação Carlos Chagas.

Palhares, do sindicato dos professores, vai mais longe: "Esses programas expoliam parte dos recursos da educação e não trazem benefícios nem para os alunos nem para professores".

Segundo ele, falta uma política pedagógica para o município. "Os cursos de capacitação de professores são insignificantes e desarticulados", afirma.
O promotor da Infância e da Juventude, Motauri Ciocchetti de Souza, não vê problemas nos programas. "Transporte e material escolar são necessidades do aluno previstas na Constituição e na LDB [Lei de Diretrizes e Bases da Educação]", afirma ele.

A Prefeitura de São Paulo investe, desde 2002, 31% dos recursos do Orçamento em educação. Desses, cerca de 6 pontos percentuais são para os programas de educação inclusiva.

Para Souza, o problema da atual administração é continuar não aplicando os 25% "puros" do Orçamento em educação, conforme prevê o artigo 212 da Constituição. Um terço dos recursos da secretaria vai para pagamento de aposentados e pensionistas, afirma o procurador.

Essa é uma briga antiga do Ministério Público com a prefeitura. Em 1999 e 2000, Souza ingressou com duas ações civis públicas pedindo que o dinheiro usado para pagamentos previdenciários não sejam contados como investimento em educação. As ações ainda não foram julgadas.

A secretária Perez alega que essa é uma prática generalizada no país. "O Ministério Público questiona o município. Por que não questionar o Estado, que faz a mesma coisa?", pergunta.


CLÁUDIA COLLUCCI
FERNANDA MENA
da Folha de S. Paulo

 
 
 

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