Árvore
da vida
Uma das
personagens mais exuberantes da região dos Jardins
tem cem anos, gasta R$ 14 mil mensais para cuidar da aparência
e acaba de virar atração para estudantes.
Para sobreviver,
ela é submetida a quatro horas de atenções
diárias, com doses de medicamentos administradas por
uma equipe de dez pessoas, chefiada pelo biólogo Ítalo
Mazzarella. "Eu aprendo mais do que cuido", afirma
ele.
Plantada
há cem anos na rua Haddock Lobo, quase na esquina com
a rua Estados Unidos, a figueira por pouco não morreu.
A árvore servia de cobertura de estacionamento de uma
loja de presentes, vítima do peso dos automóveis
e da voracidade de insetos. "Estava ameaçada",
lembra Ítalo.
Foi salva
porque o empresário Belarmino Iglesias adquiriu o terreno
e fez ali um restaurante cujo pátio é abraçado
pelos ramos, livres da simples condição de sombra
de automóveis. "As obras foram realizadas para
se acomodarem à árvore. Natural que o restaurante
ganhasse o nome de Figueira."
Sem saber
como cuidar de sua principal peça de decoração,
Belarmino recorreu à Fundação SOS Mata
Atlântica, que lhe indicou o biólogo Ítalo,
que, por sua vez, recrutou uma equipe. "Precisava de
um misto de ombudsman com médico", conta Belarmino.
Até porque a figueira é tombada pelo patrimônio
histórico municipal e estadual.
De sombra,
transformou-se em peça de decoração e,
agora, a figueira ganha status ainda mais nobre: sala de aula.
Dois educadores recebem caravanas de estudantes para admirar
a centenária personagem e aprender sobre questões
ambientais. Há um material didático preparado
especialmente para os professores. "Não adianta
falar da Amazônia sem fazer a ligação
da questão ecológica com a nossa própria
rua", defende Ítalo.
Além
de ecologia, a figueira também vai ensinar história.
O Memorial do Imigrante vai mostrar desenhos da árvore
desde o tempo em que ela ainda era uma muda, utilizados como
marcos para contar a história dos imigrantes e dos
migrantes vindos para São Paulo.
Quando
ela foi plantada, a cidade ainda tinha ar de vilarejo, centenas
de milhares de europeus eram atraídos pela riqueza
do café e os ricos começavam a refugiar-se na
recém-inaugurada avenida Paulista, onde bondes eram
puxados por mulas.
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