O
agricultor da cidade
O hobby
de Hans Dieter Temp é criar hortas comunitárias
na periferia da zona leste de São Paulo; seu prazer
está em ver brotarem legumes e verduras onde antes
havia lixo.
Mas não
imaginava que o passatempo, que não tinha nenhum intuito
comercial, fosse fazê-lo mudar de emprego e levar famílias
a gastar menos dinheiro para se alimentar e, ao mesmo tempo,
a recuperar áreas degradadas. No hobby, ele põe
em prática o que aprendeu (e tinha deixado de usar)
na Alemanha, onde estudou técnicas de agropecuária
e política ambiental. "Vi que na Alemanha todos
sabem cultivar seu alimentos. Por que não no Brasil?",
indaga Hans.
Nas horas
vagas, saía à procura de terrenos abandonados,
entulhados de lixo. Fazia, então, uma proposta ao dono:
manteria gratuitamente a área limpa desde que, em troca,
pudesse cultivar a horta. Com a autorização,
recrutava jovens para ajudá-lo na plantação.
Não era difícil fazer o recrutamento: muitas
daqueles famílias tinham vindo do campo. "No começo,
era difícil, precisei usar até terra sem cheiro,
havia moradores que reclamavam da terra adubada. Mas, quando
viram a produção, ficaram todos surpresos."
A informação
sobre um certo sujeito com nome alemão e suas hortas
circulou na Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente.
Até que acabaram sabendo que ele era um funcionário
municipal, lotado na Secretaria de Relações
Internacionais, bem distante de qualquer aroma de hortaliças
- mais distante ainda dos adubos.
O secretário
do Meio Ambiente, Adriano Diogo, tirou Hans das etiquetas
diplomáticas e convidou-o a disseminar experiências
de agricultura urbana. "Vamos investir em agricultura
urbana, em conjunto com centros comunitários e escolas",
promete Diogo. Os cursos serão nos núcleos de
educação ambiental, espalhados nos parques.
Nas suas
experiências, Hans espalhou sementes e colheu aprendizado.
Um dos aprendizes dele, por exemplo, resolveu aplicar seus
conhecimentos numa escola municipal da periferia - a horta
acabou por enriquecer a merenda escolar. "Foi um dos
maiores orgulhos que já tive", comemora Hans,
para quem disseminar a agricultura urbana é só
uma volta às origens. Gaúcho, nasceu no campo,
onde seus pais tinham um sítio - o que um dia foi uma
necessidade de sobrevivência, virou hobby e, agora,
política pública.
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