Luta contra radicais livres é
alvo
da terapia ortomolecular
ADRIANA
RESENDE
da Folha Online
O prefixo
"orto", na língua portuguesa, significa correto.
É exatamente a busca dessa correção no equilíbrio
das moléculas do organismo o objetivo da terapia ortomolecular.
Criada na década de 60, a terapia biomolecular _ou ortomolecular_
foi desenvolvida a partir dos trabalhos de Linus Pauling (1901-94),
cientista que foi o único homem a ganhar duas vezes sozinho o Prêmio
Nobel –de Química, em 1954, e da Paz, em 1962.
Trata-se da bioquímica e da genética molecular aplicadas
à medicina. É uma espécie de monitoramento
do combate que o organismo trava com os radicais livres, os subprodutos
do organismo. Na defesa estão os 45 nutrientes que formam
cada célula do corpo.
"É muito grande a diferença entre os resultados
obtidos com a medicina ortomolecular e a medicina convencional.
Por isso prefiro aplicar as técnicas da medicina ortomolecular
", diz o geriatra Virgílio Ferreira Arena, 54, que trata
de pacientes com doenças crônicas, como hipertensão,
diabetes e reumatismo, em uma clínica de São Paulo.
Ele explica que é possível verificar a dosagem de
minerais como alumínio, cromo, selênio e zinco dentro
das células. A falta ou o excesso dessas substâncias
e de vitaminas A, D, E e K pode provocar baixa resistência
das células, depressão e alterações
no nível de glicose no sangue. A análise de doses
de tais substâncias é feita por meio de exames nos
fios de cabelo e no sangue, por exemplo.
O médico Adjar Mendes, 49, de Belo Horizonte, é estudioso
das técnicas ortomoleculares há dez anos. Especialista
em nutrologia, pediatria, geriatria e gerontologia (estudos de aspectos
sociais do envelhecimento), ele ressalta que a análise do
fio de cabelo é importante para diagnosticar intoxicações
ocupacionais, de pessoas que trabalham próximas a metais
tóxicos, como cádmio, alumínio, mercúrio
ou chumbo.
"Mas é preciso ser, no mínimo, clínico
geral. Não é só receitar vitaminas. A ortomolecular
é uma terapia exclusivamente médica, e não
estética. Ela deve complementar o trabalho que o próprio
médico já faz", reforça.
Segundo o médico Efraim Olzwer, 45, de São Paulo,
o sentido da terapia é profilático. "É
preciso identificar os fatores que possam acelerar o envelhecimento,
para depois combatê-los", afirma.
Ele concorda que a administração de suplementos nutricionais
deve ser feita por médicos especialistas."Os
efeitos colaterais existem. Podem ocorrer alterações
hematológicas (sanguíneas), mas muito raramente."
Ele ressalta, porém, que cada paciente deve receber doses
de nutrientes adequadas ao seu caso. "Há
contra-indicações: mulheres grávidas devem
evitar a vitamina A nos três primeiros meses", diz o
médico.
Busca do equilíbrio
Estresse, depressão, emagrecimento, gastrite ou simples prevenção,
muitas são as razões que levam o paciente a procurar
a terapia ortomolecular. Em muitos casos, a técnica acaba
levando ao diagnóstico de outros problemas.
Foi o que aconteceu com a analista programadora Karla Cristina Neves,
26. Ela conta que procurou esse tipo de tratamento com o objetivo
de emagrecer e depois tratou também de depressão.
"Eu
só chorava, às vezes nem sabia por quê. Já
tinha tentado de tudo: não conseguia emagrecer. Aí
descobri que estava com falta de lítio, o que me deixava
depressiva." O tratamento de Karla, feito em 98, durou cerca
de seis meses. Depois disso, ela diz não ter tido mais sintomas
de depressão e até ter conseguido emagrecer.
A advogada Denise Cássia Garcia, 41, também se diz
satisfeita com o tratamento. "Fui ao médico preventivamente,
apenas pra ver se estava tudo bem. Eu não tinha nada de grave:
só um pouco de má digestão, cansaço
e dor de estômago, às vezes, e ele me receitou remédios
homeopáticos. Mas eu me senti bem por saber que não
tinha nenhum problema sério, e que, em termos de radicais
livres, que causam envelhecimento, eu não tinha excesso",
diz.
Essa é também a opinião da juíza Sandra
Neves, 54. Por indicação de amigos, ela procurou um
especialista em terapia ortomolecular para solucionar problemas
de estresse e falta de memória. O tratamento, iniciado em
98, durou um ano.
"Minha recuperação foi excelente. Os remédios,
uma mistura de alopatia e homeopatia, diminuíram a sonolência
e estimularam a circulação do meu cérebro.
Eu até quero voltar lá pra fazer uma revisão",
diz.
Controvérsias
Ainda hoje as terapias desse gênero provocam controvérsias.
Apesar do sucesso entre pacientes e médicos de várias
especialidades, o CFM (Conselho Federal de Medicina) não
reconhece a ortomolecular como uma especialidade médica e
proíbe sua utilização em alguns casos, como
o combate ao envelhecimento ou a administração de
altas doses de vitaminas e sais minerais.
Segundo o presidente do CFM, Edson de Oliveira Andrade, 44, a terapia
ortomolecular é indicada apenas em alguns casos, como a retirada
do excesso de metais pesados no organismo. "Essa história
de inibir o aparecimento de radicais livres é conversa. Só
tem uma maneira de inibir a produção desses radicais.
É você parar de comer e de respirar", afirma.
Para ele, a primeira obrigação do médico é
não causar danos ao paciente, e a segunda, trazer benefícios.
"A reposição de vitaminas e sais minerais já
existe há séculos. E não há nada que
comprove que essa técnica de intervir no processo de envelhecimento
ofereça benefícios. À medida que se acumulem
essas evidências favoráveis, o CFM pode até
mudar seu parecer".
Adjar Mendes, contudo, discorda: "é a velha história.
Se eu não conheço, significa que não existe.
É o desconhecimento que traz a opinião contrária".
Virgílio Arena reforça: "a única explicação
é o desconhecimento. Não há nada nessa modalidade
de medicina que não seja estudado pela bioquímica".
O nutrologista Durval Ribas Filho diz que a hipervitaminose, alta
administração de doses de vitaminas, é que
torna o tratamento ortomolecular passível de contestação
científica.
"Vitaminas e minerais são importantes para evitar a
ferrugem das células. Mas doses altas, como mais de 1,5g
de vitamina E ou mais de 5g de vitamina C por dia, podem causar
problemas hepáticos e transtornos durante o metabolismo dos
alimentos. Como são lipossolúveis, não se dissolvem, eles
ficam acumuladas no organismo", conclui.
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1500/98 do Conselho Federal de Medicina, que trata da prática
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