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03/07/2002 - 02h05

Operação tartaruga

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da Sucursal Folha em Brasília

Rolou a festa. O trio elétrico da Ambev, patrocinadora da seleção, escolhido para fazer o trajeto entre o aeroporto de Brasília e o Palácio do Planalto, tinha mais atrativos para os pentacampeões do que o carro do Corpo de Bombeiros usado em 1970 e 1994, como a música de Ivete Sangalo e as bebidas da companhia. Ronaldo e Ronaldinho beberam guaraná Antarctica, e os demais acumularam várias latinhas de cerveja Brahma até a praça dos Três Poderes. A opção frustrou os bombeiros e atrapalhou a TV. A festa, porém, não era para eles.

Fora das imagens da Copa do Mundo, controladas a ferro e fogo pela Fifa, a Ambev, mais recente patrocinadora da seleção, conseguiu no último dia espaço mais que privilegiado: era seu o trio elétrico em que os pentacampeões desfilaram em Brasília, na primeira e mais importante recepção aos atletas da equipe brasileira.

Tudo estava acertado para que o desfile fosse em carro aberto dos bombeiros, mas o tradicional caminhão foi preterido na chegada. A Ambev, que tem um contrato com a CBF até 2018, que prevê o pagamento de, no mínimo, US$ 10 milhões por ano, disse, por meio de sua assessoria, que a escolha foi dos próprios jogadores.

Já na chegada, Ivete Sangalo recepcionou os jogadores na porta do avião com uma camiseta da Brahma. Dali para frente, só carnaval. Edílson fez dueto com a cantora em diversas músicas de axé e pagode. Entre as mais tocadas, Zeca Pagodinho, com o "hino" da seleção, "Vida leva eu", Ivete e o grupo Fundo de Quintal.

No viaduto de acesso ao Eixo Monumental -onde fica a Esplanada dos Ministérios-, o atacante tomou uma guitarra e puxou "Lá Vem o Brasil Descendo a Ladeira", de Pepeu Gomes e Moraes Moreira. Atrás do carro, uma multidão de cerca de 250 mil pessoas acompanhava a seleção.

Ronaldinho preferiu os tambores. Chegou a praticar um desafio com diversos percussionistas da banda de Ivete, variando os ritmos e os tipos de batida no tantã. Dida, mais tímido, tirou fotos e filmou a atuação dos colegas, como Denílson, que tocou tambor após algumas latinhas de cerveja.

Ao se aproximar da praça dos Três Poderes, Ivete pediu para que a música fosse interrompida em respeito ao presidente Fernando Henrique Cardoso. Vampeta, que deu cambalhotas na rampa do Palácio do Planalto, insistiu na saideira, "Vamo Batê Lata", do Paralamas do Sucesso.

O goleiro Marcos, nesse momento, surpreendeu-se com a multidão que estava na Esplanada e resolveu descansar. Sentou-se e acendeu um cigarro, saboreando a última latinha de cerveja antes de encontrar o presidente FHC.

Durante o trajeto, além de faixas de propaganda no caminhão, garotas portavam bandeiras da cervejaria. O carro tinha ainda imagens como a tartaruga símbolo dos comerciais da Brahma.

O caminhão dos bombeiros que deveria exibir a seleção do técnico Luiz Felipe Scolari foi o mesmo no qual desfilou a seleção tricampeã em 1970 e a tetracampeã em 1994. Durante 15 dias, o Corpo de Bombeiros preparou o caminhão principal, que não é usado atualmente para no caso de incêndios.

"Pensávamos que receberíamos a seleção. Com certeza estamos decepcionados, principalmente porque comemoramos hoje o Dia do Bombeiro", afirmou o major Marcos Negrão, um dos coordenadores do desfile dos jogadores.

Além de provocar a decepção dos bombeiros, a decisão dos jogadores acabou provocando transtornos para a TV Globo, que estava preparada para fazer imagens ao vivo durante o desfile de dentro do caminho tradicional.

Somente depois de mais de uma hora da chegada é que a TV conseguiu montar um "link" no trio elétrico e passou a transmitir imagens ao vivo dos jogadores.

A informação transmitida ao Palácio do Planalto e ao presidente da Radiobras, Carlos Zarur, foi a de que o "link" para a transmissão ao vivo havia sido instalado no carro dos bombeiros. Com a mudança, não houve condições técnicas de transmissão até quase perto da rodoviária central do Plano Piloto (centro de Brasília).

Conforme a Folha apurou, quem providenciou a transferência de última hora da seleção para o trio elétrico foram a produtora de eventos Bia Aidar e representantes da Ambev. Desde a véspera, o Cerimonial da Presidência da República e a Secretaria de Comunicação discutiam se seria conveniente utilizar o carro.

O argumento a favor era que a tradição deveria ser mantida. Mas também havia argumentos contra: é muito desconfortável, e os jogadores teriam que praticamente se pendurar em escadas depois de semanas de tensão e muitas horas de vôo. Apesar desses problemas, prevaleceu a tese de manter a tradição, esquema que acabou sendo desrespeitado.

Na versão oficial da Globo, só não houve transmissão ao vivo dos jogadores por cerca de meia hora, "enquanto o helicóptero era reabastecido". Segundo a Folha apurou, a transmissão ao vivo foi das 9h19 às 15h42, atingindo 28 pontos no Ibope (de cada dez telespectadores, seis estavam assistindo).

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