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03/12/2000 - 21h41

Guga mantém discrição ao longo da carreira

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da Folha de S.Paulo

Do catarinense Gustavo Kuerten que iniciou a carreira profissional em 1995 para o brasileiro Gustavo Kuerten coroado o melhor tenista do mundo em 2000, nem tudo mudou em sua vida.

De distante número 665 a indiscutível primeiro lugar no ranking mundial, de algum punhado de dólares como prêmio e falta de patrocínio a US$ 7,5 milhões e seis patrocinadores hoje, "o Guga" continua mantendo (e fazendo questão de manter) uma parte (importante) de sua vida.

E talvez o símbolo de mudança que possa ter ocorrido nestes cinco anos de circuito profissional pode ser resumida a uma cama. Sim, isso mesmo: uma cama.

No fundo, o Guga que acordou na manhã de hoje em uma suíte do hotel Ritz, um dos mais badalados e caros da capital portuguesa, é o mesmo Guga que já dividiu pequenos quartos de hotéis de segunda categoria em outras capitais européias com o seu treinador, Larri Passos.

Se hoje Guga despertou sozinho na cama king size, em que coube confortavelmente o seu 1,91 metro e seus 75 kg nas cerca de oito horas de sono, no início da carreira Kuerten já chegou a acordar com os pés para fora de camas bem menores.

E, diferentemente de hoje, no hotel Ritz, já acordou vendo o seu bravo técnico dormindo ao seu lado, mas no chão (uma só cama no quarto, Passos a deixava para o pupilo tentar dormir bem).

O treinador gaúcho, aliás, é o lado mais visível da mesma vida que Kuerten, um dos poucos tenistas do grupo dos melhores do mundo que mora na mesma cidade onde nasceu, tenta levar.

Como quando tinha 14 anos, continua ouvindo calado as instruções de Passos. Não argumenta com ele. Mas ouve atento.

O técnico, por sua vez, continua servindo não só de técnico, mas de pai, conselheiro, amigo, fisioterapeuta, preparador físico, nutricionista e até guarda-costas.

Como nas tardes quentes do verão em Balneário Camboriú, início dos anos 90, Passos hoje, na tarde fria do inverno em Lisboa, foi a pessoa a buscar um par de tênis para Kuerten jogar. É a ele que cabe essa tarefa, também.

É nas pessoas que o cercam que Guga tenta manter o padrão de comportamento que sempre julgou ser o seu: menino-família.

Um dos momentos de maior abatimento para o jogador foi quando, campeão já em Roland Garros-1997, acabou "cobrado" por jornalistas e torcedores a "profissionalizar" seu staff.

Decisão pessoal, manteve todos ao seu redor, por afinidade e costume. Para se sentir seguro.

Kuerten continua, assim, pouco se importando com as contas a pagar. É o seu irmão mais velho, Rafael, quem cuida disso.

Se antes, três anos atrás, pouco mais de US$ 500 mil em prêmios, já patrocinado por um banco, recorria ao cartão magnético do irmão para sacar dinheiro, agora, quase US$ 7,5 milhões só em prêmios (faltaria controlar ainda outros milhões de seus patrocinadores), ainda é Rafael, o mais velho, quem abastece Guga, o do meio.

Para lidar com o assédio de torcedores, jornalistas, curiosos e chatos em geral, ainda destaca a mesma amiga, agora já formada jornalista, em cuja casa já chegou a se hospedar durante torneio, ainda quando hotéis do porte de Ritz não faziam parte do dia-a-dia (hoje fazem, e ele reclama).

Em casa, nada mesmo mudou. Nem ele, fisicamente. Continua morando com a mãe e os irmãos.

E continua "exigindo" que a mãe, dona Alice, viúva, loira, tenha a geladeira com sorvete.

Desde pequeno, antes mesmo de ser juvenil, é assim, e isso também não mudou agora, vencedor da "corrida dos campeões".

A mãe, por sua vez, pode ser considerada uma das grandes responsáveis por manter Guga como Guga é hoje.

E ela mesma também não muda. Continua rezando durante os jogos do filho mais famoso, ficando com o rosto vermelho, nervosa, com dores do estômago.

Hoje, especialmente, só mudou um único ritual: além dos punhos cerrados e erguidos, incorporou o dedo indicador apenas erguido, sugerindo o número um do mundo, o seu filho do meio após a vitória sobre Andre Agassi na capital portuguesa.

Daqui para a frente, alguma coisa vai mudar? Se depender de Guga, não. Logo, não vai mudar.

"Não espero nada de diferente para o futuro", previu e definiu, já com o troféu de número um do mundo nas mãos.

O que significa ser o melhor do mundo? Para que serve? Sem mudar também a expressão, solta apenas um "quando tiver um filho, direi que fui número um do mundo", bem modesto.

Agora, número um de fato, aclamado por Andre Agassi, Pete Sampras, Marat Safin e outros do gênero, as pretensões não acabaram ainda para Gustavo Kuerten.

Mas, ao falar das pretensões na vida, nem fala agora em ganhar Grand Slams, Masters Series, troféus, melhorar backhands, forehands, ou soltar mais aces.

Como há anos, quando ainda obrigava seu treinador a ouvir acordes desafinados de violão (porque ambos dividiam o mesmo quarto), ainda não aprendeu a tocar como quer.

E agora já número um do tênis profissional e sozinho em seus quartos nos hotéis por onde anda, Guga tem como pretensão tocar violão melhor.
No hotel Ritz de Lisboa, sozinho em seu quarto, nos dias anteriores à sua coroação, seu maior tempo livre foi para tocar violão.

Como há alguns anos, Guga agora passará os dias tentando melhorar seus acordes no violão. Isso também não mudou.
 

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