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11/02/2003 - 05h37

"Homem mau" fez fama de José Lewgoy

INÁCIO ARAUJO
crítico da Folha

"Estudei arte dramática em Yale, EUA, e todo meu Shakespeare tem sido gasto em filmes lamentáveis." A frase ilustra bem a insatisfação de José Lewgoy com seu trabalho.

No entanto, Lewgoy deixou uma marca profunda no cinema brasileiro antes de morrer, ontem, aos 82 anos. Foram mais de 90 filmes em mais de 50 anos de uma carreira iniciada em 1949.

A frase acima, reproduzida pela "Enciclopédia do Cinema Brasileiro" assinala o abismo entre as modestas ambições de boa parte do cinema brasileiro e a vocação internacional desse filho de pai russo e mãe americana.

Nascido em Veranópolis (RS), cidade de imigração predominantemente italiana, em novembro de 1920, já nos anos 40, em Porto Alegre, tornara-se tradutor da célebre editora Globo e um próximo de seu "staff", composto por intelectuais como Mário Quintana e Erico Verissimo.

Foi Verissimo, aliás, que levou o adido cultural americano para ver uma montagem amadora em que Lewgoy atuava. E foi por influência do adido que ele ganhou uma bolsa para estudar arte dramática na Universidade de Yale, entre 1947 e 1949.

É compreensível que não lhe bastassem os filmes que fazia, embora alguns deles tenham consolidado, para sempre, sua fama de "homem mau" por excelência do cinema brasileiro, entre eles "Carnaval no Fogo" (1949), de Watson Macedo, e "Matar ou Correr" (1954), de Carlos Manga.

Não é de espantar que tenha tentado fazer carreira na França, entre 1954 e 64, apesar de ter estudado nos EUA: sua maior influência eram atores franceses clássicos, como Jean Gabin ou Jean Marais. Atores que representavam e não tinham medo de parecer que representavam, como dizia (o que talvez explique a fama de cabotino que acompanhou Lewgoy ao longo de sua carreira).

De volta ao Brasil após tentar por dez anos carreira na França, a partir de 1954, Lewgoy mostra plenamente sua versatilidade.

Trabalha com igual desenvoltura com realizadores do cinema novo, como Glauber Rocha ("Terra em Transe", de 1966) ou Roberto Santos ("As Cariocas", de 1967), em filmes de extração popular, como os da série de Roberto Carlos, realizados por Roberto Farias, ou "Os Paqueras" (1968), de Reginaldo Farias. Mas também pode ser visto em trabalhos de cineastas experimentais, como Júlio Bressane ("Tabu", de 1982, "Os Sermões", de 1989).

Como que para coroar sua ambição internacional, nos anos 80 trabalha com o alemão Werner Herzog em "Fitzcarraldo" (1982) e "Cobra Verde" (1987). Mas a marca mais evidente de seu carisma está, ironicamente, nas velhas chanchadas da Atlântida.

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