Publicidade
Publicidade
25/11/2003
-
09h23
SÉRGIO DÁVILA
da Folha de S.Paulo
Em janeiro de 2002, o jornalista norte-americano Daniel Pearl foi morto por radicais islâmicos no Paquistão. Fazia uma reportagem sobre extremistas para o diário econômico "The Wall Street Journal". Teve a garganta cortada em frente a uma câmera, filme que depois rodou o mundo via web.
Nas últimas semanas, chegaram às livrarias brasileiras dois livros que tratam do assunto. "Quem Matou Daniel Pearl?", de Bernard-Henri Lévy, em que o filósofo francês discute as relações dos EUA com o Paquistão, e "Cidadão do Mundo", de Helene Cooper, jornalista amiga de Pearl que faz uma compilação de seus textos.
Sua morte causou comoção e tocou o mundo, e os dois livros tentam explicá-la (no primeiro caso) ou relembrá-la (no segundo), mas fogem do principal: todos os anos, dezenas de jornalistas são mortos em conflitos ou em ação em zonas de perigo, como foi o caso de Daniel Pearl.
Nos 43 dias de duração oficial da Guerra do Iraque, 16 jornalistas morreram ou desapareceram. Para efeito de comparação, na Guerra do Vietnã (1964-75), 50 profissionais foram mortos. Proporcionalmente, morrem muito mais repórteres hoje em dia.
E devem morrer mais ainda, muito por culpa da própria imprensa. Da imprensa norte-americana, que influencia o resto do mundo e faz com que a categoria como um todo leve a fama. É que cada vez menos as partes envolvidas nos conflitos enxergam o repórter como uma força imparcial.
Tudo começou na Guerra do Vietnã, um marco nesse tipo de cobertura. Os correspondentes gozavam então de uma liberdade sem precedentes, por diversos motivos, entre eles o fato dos EUA serem então um país "convidado" pelo Vietnã do Sul, que tomou para si a tarefa de organizar e vigiar os jornalistas estrangeiros.
Foi muito por influência das imagens que os norte-americanos assistiam em suas casas nos telejornais das 18h que a sociedade civil se mobilizou e exigiu que o país se retirasse de um conflito que não era seu e no qual sofria baixas terríveis e cometia atrocidades.
O Pentágono "aprendeu a lição". Desde então, em todos os conflitos nos quais os EUA se envolveram (e foram dezenas), intensificaram o controle sobre a imprensa norte-americana --que passou a fazer um trabalho mais comprometido, principalmente as emissoras de televisão.
Com o passar do tempo, os povos dos países agredidos ou agressores que se envolveram em pinimbas com os EUA passaram a identificar como defensores dos interesses do governo norte-americano, pela ordem: os jornalistas televisivos norte-americanos; os jornalistas norte-americanos; todos os jornalistas ocidentais.
De observadores, jornalistas passaram a inimigos. Nos Bálcãs, por exemplo, um repórter morto valia US$ 500. A consequência é que o assassinato de Pearl pode ser simbólico, mas não foi o primeiro nem será o último, infelizmente.
Leia mais
Autores analisam cobertura da Guerra do Iraque
Crítica: "Quem Matou Daniel Pearl?" é contrário à paixão do ódio
Morte de Daniel Pearl mostra que jornalistas viraram alvo
Publicidade
da Folha de S.Paulo
Em janeiro de 2002, o jornalista norte-americano Daniel Pearl foi morto por radicais islâmicos no Paquistão. Fazia uma reportagem sobre extremistas para o diário econômico "The Wall Street Journal". Teve a garganta cortada em frente a uma câmera, filme que depois rodou o mundo via web.
Nas últimas semanas, chegaram às livrarias brasileiras dois livros que tratam do assunto. "Quem Matou Daniel Pearl?", de Bernard-Henri Lévy, em que o filósofo francês discute as relações dos EUA com o Paquistão, e "Cidadão do Mundo", de Helene Cooper, jornalista amiga de Pearl que faz uma compilação de seus textos.
Sua morte causou comoção e tocou o mundo, e os dois livros tentam explicá-la (no primeiro caso) ou relembrá-la (no segundo), mas fogem do principal: todos os anos, dezenas de jornalistas são mortos em conflitos ou em ação em zonas de perigo, como foi o caso de Daniel Pearl.
Nos 43 dias de duração oficial da Guerra do Iraque, 16 jornalistas morreram ou desapareceram. Para efeito de comparação, na Guerra do Vietnã (1964-75), 50 profissionais foram mortos. Proporcionalmente, morrem muito mais repórteres hoje em dia.
E devem morrer mais ainda, muito por culpa da própria imprensa. Da imprensa norte-americana, que influencia o resto do mundo e faz com que a categoria como um todo leve a fama. É que cada vez menos as partes envolvidas nos conflitos enxergam o repórter como uma força imparcial.
Tudo começou na Guerra do Vietnã, um marco nesse tipo de cobertura. Os correspondentes gozavam então de uma liberdade sem precedentes, por diversos motivos, entre eles o fato dos EUA serem então um país "convidado" pelo Vietnã do Sul, que tomou para si a tarefa de organizar e vigiar os jornalistas estrangeiros.
Foi muito por influência das imagens que os norte-americanos assistiam em suas casas nos telejornais das 18h que a sociedade civil se mobilizou e exigiu que o país se retirasse de um conflito que não era seu e no qual sofria baixas terríveis e cometia atrocidades.
O Pentágono "aprendeu a lição". Desde então, em todos os conflitos nos quais os EUA se envolveram (e foram dezenas), intensificaram o controle sobre a imprensa norte-americana --que passou a fazer um trabalho mais comprometido, principalmente as emissoras de televisão.
Com o passar do tempo, os povos dos países agredidos ou agressores que se envolveram em pinimbas com os EUA passaram a identificar como defensores dos interesses do governo norte-americano, pela ordem: os jornalistas televisivos norte-americanos; os jornalistas norte-americanos; todos os jornalistas ocidentais.
De observadores, jornalistas passaram a inimigos. Nos Bálcãs, por exemplo, um repórter morto valia US$ 500. A consequência é que o assassinato de Pearl pode ser simbólico, mas não foi o primeiro nem será o último, infelizmente.
Leia mais
Publicidade
As Últimas que Você não Leu
Publicidade
+ LidasÍndice
- Alice Braga produzirá nova série brasileira original da Netflix
- Sem renovar contrato, Fox retira canais da operadora Sky
- Filósofo e crítico literário Tzvetan Todorov morre, aos 77, em Paris
- Quadrinhos
- 'A Richard's estava perdendo sua cara', diz Ricardo Ferreira, de volta à marca
+ Comentadas
- Além de Gaga, Rock in Rio confirma Ivete, Fergie e 5 Seconds of Summer
- Retrospectiva celebra os cem anos da mostra mais radical de Anita Malfatti
+ EnviadasÍndice