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23/10/2006 - 09h38

Em "Flandres", cinema de Dumont esbarra em seus próprios limites

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CÁSSIO STARLING CARLOS
da Folha de S.Paulo

Um cinema despojado de artifícios, capaz de se apropriar por essa via dos seres e formas sem percorrer o atalho das metáforas e dos símbolos é como se define a proposta de Bruno Dumont desde sua estréia com "A Vida de Jesus". A intenção de se filiar ao cinema essencial de Robert Bresson soa explícita, mas sobre "Flandres" paira a incômoda questão: Dumont tem algo a oferecer além de tiques de autor?

Em "Flandres" ele retorna ao cenário de "A Vida de Jesus" e de "A Humanidade" com a mesma estratégia: focar personagens de um modo que pareça aleatório e filmá-los intencionalmente sem profundidade.

Seu interesse por humanos tem o mesmo peso que seu olhar para a natureza, que ele registra com rigor formal, evitando, porém, qualquer aproximação com o estetismo ou a "beleza".

Daí a insistência no sexo como situação que remete tudo e todos à forma bruta (no sentido de não-lapidada, antes de qualquer interpretação). Seu cinema busca o naturalismo como sinônimo de materialismo, a sensação antes do sentido.

Apesar desse disfarce, há uma preponderância moral em seu cinema, e "Flandres" a torna ainda mais evidente com a entrada em cena da guerra. De um lado, sua visão da natureza não tem nada de idílio antes da queda, ela é a "verdade" do homem, o espaço onde se dá a ver nua nossa brutalidade essencial. A guerra vem reiterar que é ainda a barbárie o fundamento desta e de qualquer civilização.

Por mais justo que seja esse ponto de partida "filosófico", com "Flandres" Dumont esbarra nos limites que ele se impôs desde sua estréia. Mesmo que se reconheça o rigor de sua execução, seu modo de expressão se encontra bloqueado pelo que o diretor quer, mais uma vez, dizer.

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