Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
05/09/2003 - 21h29

Artigo: Chile em 30 anos, do socialismo ao liberalismo

Publicidade

RAFAEL URBINA
da France Presse, em Santiago (Chile)

O Chile, elevado à categoria de país "revolucionário" durante o governo do marxista Salvador Allende (1970-73), caminha hoje a passos firmes pelo liberalismo econômico, com base nos fundamentos instituídos pelo regime militar de Augusto Pinochet,87 (1973-90). E para seu atual presidente, o socialista Ricardo Lagos, o país está nas trilhas do progresso.

Às vésperas do 30º aniversário do golpe de Estado de 11 de setembro de 1973, a imprensa chilena reviveu dia a dia a situação vivida pelo país. "Já não há trigo para o pão", anunciou Allende num de seus últimos discursos, em meio a greves, ocupações de terras e fábricas, sabotagens e atentados, além do choque entre os grupos de direita e da Unidade Popular. O país vivia um clima de plena desobediência civil e militar. Não havia produção nem dólares nos cofres do governo e a inflação tinha três dígitos.

Em contrapartida, hoje, o empresariado, além da aliança dos Partidos pela Democracia de Lagos, adverte que a economia do país está deixando para trás a estagnação e que sua retomada vai aumentar o Produto Interno Bruto este ano e em 2004, em taxas médias de 3 a 4%.

"Por enquanto, nos parecemos mais com países industrializados do que com países emergentes", comenta o presidente do Banco Central, Vittorio Corbo, um defensor do livre mercado.

Em agosto passado, o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Horst Koehler, elogiou as manobras econômicas das autoridades chilenas, afirmando que o país não seria atingido pela crise de seus vizinhos na América Latina.

"Por que vocês acham que elogiaram o Chile? Porque é um país sério, porque é confiável", declarou Lagos. Um mês antes, o Chile tinha assinado com os Estados Unidos um tratado de livre comércio, o mais recente de todos os acordos de abertura comercial já assinados pelo país.

Abertura

Em menos de dez anos, o Chile amenizou barreiras alfandegárias com 31 Estados, incluindo os 15 da União Européia. Os produtos chilenos chegam livremente a dois terços do mercado mundial e o país é o quinto mais acessível à importação e ao investimento externo.

Esta é a "boa" herança do governo militar de Pinochet, segundo a maioria das pessoas entrevistadas em pesquisas de opinião. Maioria esta que, por outro lado, condena as violações dos direitos humanos durante o regime militar.

"Não, claro que Pinochet não foi uma pessoa iluminada para descartar vias e optar pela abertura e pelas reformas. O grosso da cultura e a tradição militar era de corte tradicional: doutrina e prática de Estado, estadista e liderança do Estado", disse o economista Alvaro Bardón, um ex-colaborador de seu regime.

"E, além disso, todo mundo --padres, civis, empresários, trabalhadores-- estava na contra-mão da mudança", afirmou. "Às vezes escutava dizerem a Pinochet que, se estávamos deixando Allende, não se podia fazer o que ele estava fazendo", lembrou.

Ou seja, "tinha que fazer, embora não entendesse nada, uma coisa diferente", acrescentou o economista que, durante a administração de Pinochet, dirigiu o Banco Central.

Liberalismo

Segundo Bardón, o caminho para o liberalismo "foi trilhado com sucessivas casualidades, quase como um milagre". "O Chile estava em ruínas com Allende, veio a crise do petróleo, com o aumento dos preços, em 1975, que deixou o país sem nenhum dólar. Já em meados de 1974 os governantes não tinham opção e, finalmente, veio a coincidência mais importante: o aparecimento de uma geração de economistas educada nos Estados Unidos, que questionou a estratégia de desenvolvimento interno e reivindicou o livre mercado", afirmou Bardon.

Entre os grandes nomes responsáveis por essa mudança podemos citar Sergio de Castro, Pablo Barahona e Jorge Cauas, este último ligado à Igreja.

Há três décadas da virada econômica, o ministro da Fazenda de Lagos, Nicolás Eyzaguirre, afirma que o problema que ainda resta é o desemprego, mas que com novas mudanças estruturais "como a da flexibilidade trabalhista" para liberalizar a contratação, ajudariam resolver, ou pelo menos amenizar, a questão.

O ministro recorda o dia 11 de Setembro de 1973 como o "dia mais triste da minha vida". "Fui cedo à faculdade (...) ficamos com um grupo pensando o que faríamos, como resistiríamos à ruptura da legalidade e, finalmente, vimos mãos contra tanques", lembrou.

Segundo Alvaro Bardón, "Pinochet e o golpe mudaram todo o Chile".

Leia mais
  • Projeto de lei propõe fim de anistia a militares no Chile
  • Saiba mais sobre o papel dos EUA no golpe de Estado no Chile
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página