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13/01/2004 - 11h25

Saiba mais sobre Harold Shipman, o "Doutor Morte"

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da France Presse, em Londres

Por trás dos óculos que lhe davam um aspecto austero e respeitável, pequenos olhos cinzentos impenetráveis e um obcecado silêncio: a personalidade do médico Harold Shipman, um dos maiores assassinos em série da história, que se suicidou hoje, continuará sendo tão misteriosa como foram seus motivos.

O clínico-geral de 57 anos de idade, apelidado de "Doutor Morte" depois de sua condenação à prisão perpétua em janeiro de 2000 pelo assassinato de 15 de seus pacientes, matou na realidade pelo menos 215, e talvez até 260, entre 1975 e 1998, segundo uma investigação oficial.

Associated Press
Harold Shipman, médico britânico conhecido como "Doutor Morte"
Uma das poucas certezas é que seus pacientes tinham total confiança nele. E até o chamavam carinhosamente de "Fred" (seu nome completo é Harold Frederick Shipman), comparecendo fielmente a seu consultório.

Durante os quatro meses de duração de seu julgamento, não foi possível estabelecer um motivo claro, pois o médico, que trabalhava em Hyde, perto de Manchester (noroeste da Inglaterra), sempre negou os crimes. Embora tenha falsificado o testamento de uma de suas pacientes, os investigadores descartaram a motivação financeira.

Ele se manteve imperturbável durante praticamente todo o processo, fraquejando apenas uma ou duas vezes diante da apresentação de provas irrefutáveis de que havia injetado doses fatais de drogas em seus pacientes.

O advogado de defesa alegou o cansaço de seu cliente para justificar sua calma. O acusado negou todas as acusações e em nenhum momento manifestou pesar pelo horror dos crimes.

Imprensa

Sem conseguir compreender suas motivações, a imprensa o classificou de "demônio", "novo doutor Hyde" e até de "Mengele britânico", como o chamou o "Times", que não hesitou em compará-lo com o carrasco de Auschwitz.

Casado e pai de quatro filhos, Shipman era um médico apreciado por seus pacientes. No ano de sua prisão, 1998, 3.000 nomes constavam no arquivo de seu consultório.

No início da investigação, sua mulher, Primrose Shipman, reiterou que o amava e que acredita sinceramente em sua inocência.

Na falta de motivos, os psiquiatras buscam nas profundidades de sua vida pessoal uma explicação possível para os assassinatos em série.

Câncer

Nascido em 14 de janeiro de 1946 em uma família de operários, Shipman acompanhou aos 17 anos a lenta agonia de sua mãe, Vera, que morreu de câncer de pulmão. Quando não existiam mais esperanças, viu os médicos injetarem doses diárias de diamorfina (nome científico da heroína) em sua mãe para aliviar o sofrimento.

A maioria das vítimas de Shipman eram mulheres, todas de idade mais ou menos avançada. As autópsias revelaram que elas receberam grandes doses de diamorfina, droga que o médico possuía em excesso, segundo a polícia.

Durante a época de estudante, ele era fascinado pelas drogas, contaram alguns ex-colegas.

Em 1976, Shipman foi condenado a pagar uma multa por ter adquirido, de maneira irregular, drogas para seu próprio consumo. "Estava deprimido", declarou na ocasião.

Depois do incidente o médico nunca mais teve problemas com a Justiça.

Primeira vez

Shipman matou pela primeira vez em 1975, apenas um ano depois de ter começado a exercer a profissão, e continuou cometendo crimes até sua prisão, em 7 de setembro de 1998.

Das vítimas, 171 eram mulheres e 44 homens. A mais jovem era um homem de 41 anos, e a mais velha, uma senhora de 93.

Na cidade de Hyde, onde se instalou em 1977, Shipman matou 214 de suas 215 vítimas confirmadas. Sua rotina homicida se acelerou em 1992, quando resolveu clinicar sozinho após brigar com os colegas com quem dividia consultório.

O médico matou 16 pacientes em 1993, 11 em 1994, 30 em 1995, 30 em 1996 e 37 em 1997.

Em 1998 voltou a matar mais 18 vezes até ser descoberto por ter falsificado o testamento de uma de suas pacientes e vítimas, Kathleen Grundy, 81. Esta foi a única vez em que o motivo do crime pareceu ser financeiro, a menos que se tratasse de uma forma inconsciente de autodenúncia.

No início da investigação, Shipman teria confessado o "desejo de controlar a vida e a morte". Os especialistas acreditam que ele talvez tenha ficado "cego" ao sentir que possuía o poder de controlar a vida.

"Sou um ser superior", teria declarado a um policial, antes de iniciar o silêncio que manteve desde então.

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