'Como se chama a bola da bandeira do Brasil?', pergunta leitor da Folhinha

Seção Um Adulto Responde pede licença para ajudar leitor de 50 anos em busca de informação que nem o Google tem

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São Paulo

Quando se trata de bandeira do Brasil, todo mundo tem uma vaga ideia do porquê daquelas cores —um retrato das matas, do céu e das riquezas nacionais, por exemplo. Mas e os elementos escolhidos para ilustrá-la, será que têm uma explicação?

Nesta semana, pedimos licença para abrir espaço para um adulto perguntar: Sandro Maeda procurou resposta à sua dúvida no Google, não encontrou nada, e então mandou um email para folhinha@grupofolha.com.br.

Bandeira do Brasil - Divulgação

A Folhinha pediu ajuda a Tiago José Berg, doutor em geografia e professor do Instituto Federal de São Paulo (IFSP) Capivari, autor dos livros "Hinos de Todos os Países do Mundo", "Bandeiras de Todos os Países do Mundo" e "Símbolos do Brasil", todos da Panda Books.

Como se chama a bola da bandeira do Brasil?

Sandro Massahiro Maeda, 50 anos

Primeiramente, devemos lembrar uma diferença visual importante: muitas bandeiras de países apresentam símbolos em formato de círculo (Japão, Bangladesh, Palau, Laos) associadas ao Sol e à Lua, mas a bandeira do Brasil não traz um círculo, e sim uma esfera. Portanto, a pergunta faz todo sentido ao afirmar que o objeto representado em nossa bandeira nacional é tridimensional —uma representação da esfera celeste na cor azul.

Quando Miguel Lemos, Raimundo Teixeira e Décio Vilares criaram a bandeira republicana do Brasil, eles substituíram o antigo brasão de armas do império pela figura central, que tinha a função de representar o céu do Rio de Janeiro na data de 15 de novembro de 1889, às 8h30 da manhã, quando a República foi proclamada.

A esfera armilar era um instrumento usado pelos gregos antigos para ensinar navegação e simular o movimento aparente das estrelas em torno da Terra. Era composta de círculos feitos com aros de metal, chamados de armilas.

Detalhe da esfera celeste na bandeira, com as estrelas de cada estado e suas constelações - Divulgação

Ao centro, se encontra uma pequena esfera, representando o planeta. Como símbolo, a esfera armilar é aplicada desde a Antiguidade, significando o domínio científico, a autoridade, o poder, a soberania e o próprio Deus criador do universo.

A esfera armilar foi usada na bandeira Brasil colonial desde 1645, época da expulsão dos holandeses no nordeste, até 1816, quando Dom João 6º já estava em nossas terras. Como muitos dos republicanos eram adeptos do positivismo (corrente filosófica criada por Augusto Comte na França e que prezava pela ciência), a ideia de representar o céu por meio da astronomia também foi válida.

Outra questão que reforça a ideia tridimensional do símbolo em nossa bandeira é o fato de que a faixa onde está escrita a frase (também por influência dos positivistas) "Ordem e Progresso" aparece disposta de forma curvilínea, reforçando a ideia de esfera.

Outros fatos curiosos em nossa bandeira são: a faixa descendente é curvilínea para representar o equador celeste, que já aparecia representado na esfera armilar e não reta, como o equador geográfico.

A estrela acima da faixa é chamada de Spica, da constelação de Virgem, e representa o estado do Pará —muita gente acha que é o Distrito Federal, por ser uma entidade diferenciada dos demais estados, mas a estrela que representa Brasília é a sigma do Oitante. Até então não existiam politicamente o Amapá e Roraima, simbolizando, assim, as terras brasileiras no hemisfério norte.

Na época da criação da bandeira nacional, as estrelas representavam 20 estados e o Distrito Federal (Rio de Janeiro). Com a mudança do Distrito Federal para Brasília, houve a criação do estado da Guanabara na antiga capital. O número de entidades federadas passou para 22 e a alteração na bandeira ocorreu em 1° de junho de 1960.

O Acre foi elevado à condição de estado em 1962, aumentando para 23 o número de entidades federadas, mas a inclusão da estrela na bandeira nacional só ocorreria em 1968.

Com a fusão do estado da Guanabara com o Rio de Janeiro (1975), voltaram a existir 22 unidades federadas e 23 estrelas na bandeira.

Em 1979, com a criação do estado de Mato Grosso do Sul, a antiga estrela que representava a Guanabara foi aproveitada, e o número de estrelas e unidades federadas voltou ao total de 23. Em 1982 foi criado o estado de Rondônia, mas a alteração não foi realizada.

Com a Constituição de 1988 surgiram os estados do Amapá, Roraima e Tocantins, totalizando 27 unidades federadas. Entretanto, o número de estrelas na bandeira permaneceu 23 até a lei no 8.421, de 11 de maio de 1992, quando houve a inclusão de mais quatro estrelas, perfazendo-se o total de 27 na atual bandeira nacional.

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