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Crítica - Drama

Adaptação eficaz e personagens críveis superam clichês de trama

LUIZ FERNANDO RAMOS CRÍTICO DA FOLHA

Fábula conservadora sobre a revolução. "Edukators", espetáculo de João Fonseca a partir do filme de mesmo nome do austríaco Hans Weingartner, sobrevive aos temas datados do original e transforma em teatro relevante aquela versão cinematográfica.

Weingartner contou, em 2004, a história de jovens alemães pouco politizados, mas movidos por um sentimento anticapitalista, que começam a invadir mansões milionárias para anarquizar seus ambientes. Picham paredes e empilham móveis para deixar o exemplo de ações radicais.

Os aspectos ingênuos daquela obra, sublinhados pelas características de abundância da sociedade alemã, se intensificam quando transpostos para um país de escassez como o Brasil, mesmo que em fase de vacas gordas. A trama parece distante do nosso mundo e do nosso tempo.

Ainda assim, o trabalho de adaptação de Rafael Gomes teve o dom de retomar os debates implícitos ao filme em termos singulares e conseguir configurar uma situação dramática pujante, que alcança os espectadores e os mobiliza a se aventurar com a imaginação nas discussões propostas.

CONCLUSÃO MORAL

Verdade que os assuntos tratados quase sempre resvalam para clichês --os jovens sendo naturalmente revolucionários e os velhos necessariamente reacionários, por exemplo. Mas os atuantes superam essas estreitezas construindo personagens críveis.

Liderado pelo talento de uma amadurecida Natália Lage, convincente como a moça que preenche o idealismo pueril dos dois "educadores", Fabrício Belsoff e Pablo Sanábio, o elenco tem ainda Edmilson Barros, compondo um empresário que na juventude esteve nas barricadas.

A direção de Fonseca é eficaz ao criar dois espaços cênicos distintos para dar conta da narrativa. A utilização de vídeos, a começar de um prólogo do próprio Weingartner retomando sua criação, colabora para acelerar as ações na primeira parte. Na segunda, uma disposição cenográfica mais convencional leva a trama até o fim.

Como uma fábula, tudo termina com uma conclusão moral e não com uma tese provada. É um desfecho coerente com o propósito de entreter com questões sérias, mas tratadas na superfície e sem muita reflexão.

Afinal, projetar aqueles que nunca mudarão como heróis é, talvez, eliminar do horizonte qualquer possibilidade de uma revolução.


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