Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria
Arnaldo Cohen apresenta concerto de Rachmaninov
Para pianista, público paulista manifesta formidável "autoestima cultural"
Músico vem como solista convidado da Orquestra Sinfônica Municipal; récitas serão hoje e amanhã
Poucos meses após recital na Sala São Paulo em que celebrou 40 anos de carreira internacional, Arnaldo Cohen toca -como solista da Orquestra Sinfônica Municipal, regida por John Neschling- uma das obras mais queridas do repertório, o "Concerto nº 2" de Rachmaninov, o "Rach 2".
Cohen falou à Folha por telefone na quinta. Dono de técnica portentosa e sonoridade ampla, concilia a carreira de concertista com uma cátedra de professor em Bloomington (Indiana), nos Estados Unidos, para onde foi em 2004 após 20 anos em Londres.
-
Folha - Como compara o ensino musical europeu e dos EUA?
Arnaldo Cohen - Nos EUA, a parte acadêmica está mais unida à performance. Lá a comunidade participa ativamente dos projetos da universidade, o que não ocorre na Europa ou no Brasil.
Você recorda de quando tocou pela primeira vez o "Rach 2"?
Eu me lembro muito bem Porque toquei muito mal! [risos] Foi na Inglaterra, e eu tinha pouquíssima experiência.
O que buscar numa obra que você apresentou tantas vezes?
A sensação é a de estar em uma montanha e, a cada fase da vida, você olha ao redor a partir de certo ângulo.
Quais pontos exigem mais cuidado ao preparar o "Rach 2"?
O primeiro perigo é que a textura orquestral encubra o piano e, um segundo, o risco de cair num romantismo exacerbado. Há uma linha tênue que, se ultrapassada, pode deixar a obra piegas. O desafio é manter o romantismo com dignidade.
Qual foi a sua primeira impressão da fase atual da Sinfônica Municipal?
Estava preparado para encontrar um grupo em formação, mas devo dizer da minha alegria ao ver uma orquestra em plena ascensão, o que só pode fazer bem à vida cultural brasileira.
Como você vê a música clássica em São Paulo e no Brasil?
Só sinto que a realidade de São Paulo não seja a do Brasil. A Osesp faz-me lembrar da frase do presidente Obama: "yes, we can", nós podemos. Agora temos também esse projeto para o Municipal. O público de São Paulo manifesta orgulho por suas instituições musicais, e essa autoestima cultural do paulista hoje é algo formidável.