Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Cotidiano

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

'Tropa de elite' dos valets se especializa em festas AAA

Manobristas são escolhidos a dedo para estacionar Ferraris e afins

Expansão do público "AAA" gera demanda por profissionais acostumados com carros de até R$ 1,5 mi

ROBERTO DE OLIVEIRA DE SÃO PAULO

O plano da tropa está traçado. Metade do grupo deve recepcionar os convidados que chegam de helicóptero e conduzi-los de limusine por 2 km até o lobby da festa.

Às margens de um lago artificial, onde ocorre a cerimônia, cabe ao restante da equipe manobrar e estacionar Porsches, Ferraris, Maseratis.

Durante seis horas, esse é o trabalho de manobristas VIPs, contratados com a missão de atender 500 convidados de um casório que reúne a elite do PIB brasileiro, no interior de São Paulo.

O local escolhido é uma fazenda butique, que congrega casarões, espaço para esportes e hípica em meio ao verde do campo.

De ternos alinhados, barba e cabelo feitos, o grupo é formado por 50 profissionais instruídos a operar as "naves" --como são chamadas pelos manobristas essas máquinas potentes que passam dos 300 km/h e chegam a custar R$ 1,5 milhão.

São carrões de banqueiros, industriais do setor de alimentos e petrolífero e empresários da construção civil, além de políticos e ministros.

Os "manobras" (assim eles se identificam) VIPs são mais um reflexo do ascendente mercado de luxo do "triple A" --para usar um jargão corrente nas rodas financeiras.

Por evento, eles podem ganhar R$ 650 cada um, gorjeta inclusa. O contrato com a empresa sai por R$ 30 mil --pouco mais que o dobro do preço para uma festa comum.

Precisam chegar trajados de uniforme, ternos e até de luvas brancas de renda. Em uma festa no Morumbi, no final do ano passado, promovida por um industrial, a tropa apareceu, a pedidos, vestida de monstro e maquiada.

NEGÓCIO DE RISCO

O seguro total do veículo, é claro, faz parte do pacote. Hostess cuidam da vistoria antes de os carros serem conduzidos para os bolsões onde serão estacionados.

As hostess são ainda encarregadas de deixar mimos dentro dos carros na hora da entrega, como sachês de essências e miniaturas de perfume.

Caso ocorra algum acidente, há contratos que exigem que a empresa do valet alugue outro veículo similar durante o período de conserto, e que os carros só poderão ser recuperados por concessionárias autorizadas.

O alvo da tropa de elite dos manobristas é centrado em consumidores (pessoa física ou jurídica) de alto poder aquisitivo. Engloba de casamentos a feiras, de festas empresariais a bodas.

"Hoje, grandes festas e casamentos de famílias tradicionais paulistanas, por questões de segurança, só trabalham com o serviço de valet selecionado", conta Daniel Menasche, 46, diretor da Quality Park, que mantém uma carteira de 25 empresas.

"É um serviço voltado", diz, "para um público muito rico que vem ganhando mais espaço nos últimos cinco anos". Resumindo: é para a classe A "gargalhada", a onomatopeica AAA.

Uma das maiores empresas do setor de estacionamentos do Brasil, com 260 estabelecimentos espalhados por nove Estados, a MultiPark criou, há dois anos, um departamento específico para atender à crescente demanda pelo valet VIP.

Quando surgiu, ela atendia a um evento por semana. Hoje são sete, conta Alexandre Rogério Sequine, 41, diretor de novos negócios.

Entre os clientes, nomes como Fasano, Rodeio, Tiffany & Co, Emporio Armani.

PLANEJAMENTO

Antes de fechar o negócio, Sequine apresenta um projeto da operação aos profissionais envolvidos no trabalho.

Nele, há um mapeamento sobre a região onde será realizada a festa, áreas de estacionamento, avenidas mais carregadas pelo trânsito e outras possíveis intempéries.

Em festas no Morumbi, por exemplo, onde há escassez de estacionamentos, os carros podem ficar na rua. Nesse caso, o contrato prevê um segurança, munido de ponto no ouvido e microfone de lapela no terno, responsável por "blocos" de 20 carros.

O serviço da tropa conta com reforço de um encarregado de recepção, um supervisor de manobras e um gerente de operação. Cada manobrista é responsável por, no máximo, dez carros.

Dependendo da dimensão do evento, a tropa faz uma simulação da operação de manobra e estacionamento 15 dias antes da festa.

As empresas que trabalham com esse segmento não revelam nem o faturamento, nem detalhes de eventos de seus clientes por uma questão de sigilo contratual, justamente para garantir a segurança e a sobrevivência de seu próprio negócio.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página