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País em protesto
Ribeirão Preto tem a 1ª morte dos protestos
Manifestante é atropelado por motorista que avançou contra grupo durante ato no interior de SP; agressor está foragido
Segundo testemunhas e vídeo, motorista de Land Rover tentou furar bloqueio após ser ofendido por ativistas
Um manifestante morreu e outros três foram atropelados durante o protesto que reuniu ontem em Ribeirão Preto (313 km de São Paulo) pelo menos 25 mil pessoas.
O grupo foi atropelado por um veículo na avenida João Fiúsa, área nobre da cidade. De acordo com testemunhas, o carro tentou furar o bloqueio montado por manifestantes.
Segundo o delegado Carlos Henrique Araújo da Silva, o motorista é o empresário Alexsandro Ishisato de Azevedo, 37, e estava acompanhado de uma mulher e uma criança. Ele não havia sido encontrado até a conclusão desta edição.
Como os manifestantes não saíram da frente, Azevedo atingiu os quatro. O estudante Marcos Delefrate, 18, morreu no local.
Do grupo atingido pelo carro, um Land Rover, o ativista José Felipe Braga, 19, foi encaminhado à UBDS (Unidade Básica Distrital de Saúde) Central em estado grave. Outras duas manifestantes --Pabline Luana Lalluci, 21, e Nicole Rogéria Moreira, 19-- sofreram fraturas.
'SEM VIOLÊNCIA'
Um vídeo que circulou ontem à noite nas redes sociais mostra o momento do atropelamento. Os manifestantes gritavam "sem violência" quando o Land Rover se aproximou dos jovens na avenida.
O carro foi cercado pelos ativistas, que começaram a gritar "volta, volta".
O motorista deu marcha a ré, mas depois avançou novamente o veículo na direção dos manifestantes. Neste momento, ele voltou a ser cercado e foi ofendido pelos ativistas. Segundo a Polícia Militar, ao menos um deu um soco no carro.
Foi então que ele acelerou o Land Rover e atropelou o grupo dos manifestantes. Na sequência, fugiu sem prestar socorro, ainda de acordo com a polícia.
Testemunhas anotaram a placa do Land Rover, que foi localizado pela polícia por volta das 22h. O motorista continuava foragido.
RELIGIOSO
Segundo familiares e amigos de Delefrate, o estudante cursava o terceiro ano do ensino médio na escola estadual Otoniel Mota, tradicional colégio de Ribeirão.
"Não queria que meu filho fosse [ao protesto]", afirmou a mãe do estudante à Folha na porta da UBDS, antes de saber que Delefrate tinha morrido.
Sem dar seu nome à reportagem, ela entrou na unidade de saúde. Foi quando a Folha ouviu os gritos dela ao receber a notícia.
Conhecido como Markin, Delefrate era católico e frequentador da paróquia Santo Estevão, no Ipiranga, bairro da periferia na zona norte da cidade. Lá, tocava violão com grupos católicos da igreja havia quatro anos.
"Era muito tranquilo e tímido e por isso o trouxemos para o grupo musical", disse Maurício da Silva Gomes, 46, que foi professor de catequese de Delefrate.