Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Cotidiano

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Só agora, PMs acusam coronel de mandar invadir o Carandiru

Em nova estratégia, defesa tenta mostrar que acusados de massacre apenas cumpriam ordens

"O senhor pensa que naquela noite voltei para casa feliz e tomei um copo de sangue?", disse um réu ao juiz

TALITA BEDINELLI AFONSO BENITES DE SÃO PAULO

Na segunda etapa do julgamento do episódio conhecido como massacre do Carandiru, policiais militares acusados de assassinar 73 detentos tentam atribuir parte da culpa a um outro policial que jamais foi denunciado pelos homicídios.

Dos 25 réus, só 6 responderam aos questionamentos do juiz, promotores e advogada. Eles disseram que quem ordenou que eles entrassem no segundo andar do presídio foi o coronel Edson Faroro.

Na época, ele era o comandante do 2º Batalhão de Choque da PM. Mas, 21 anos depois do massacre (que acabou com um total de 111 mortes), Faroro só foi denunciado por lesão corporal. A acusação prescreveu em 1995.

A estratégia da defesa é tentar fazer com que os jurados entendam que os policiais, que eram da Rota (tropa de elite da PM), não podiam se recusar a cumprir ordens superiores.

O fato chamou a atenção dos promotores. Ontem, no depoimento do tenente-coronel Salvador Modesto Madia, um dos réus, o promotor Eduardo Olavo Canto perguntou: "Por que só hoje, muito tempo depois dos fatos, o senhor menciona o coronel Faroro?"

O promotor apontou que, em depoimentos anteriores, ele afirmara que as ordens vinham de outro comandante.

Madia respondeu: "O que eu fiz está aí assinado [no depoimento de outra ocasião]. Se tiver qualquer diferença pouco importa. Onde o coronel Faroro atuou, o senhor tem que perguntar para ele."

Faroro está aposentado e vive no litoral paulista. Procurado ontem, por telefone, ele não retornou ao recado deixado com sua funcionária.

ROTA NO TRIBUNAL

Ontem, no quarto dia de júri, aconteceu o mais longo dos depoimentos desta fase. Por seis horas, Madia respondeu às perguntas dos promotores, juiz, defesa e jurados.

No interrogatório, tanto a advogada Ieda Ribeiro de Souza quanto os promotores Eduardo Olavo Canto Neto e Fernando Pereira da Silva tentaram traçar o perfil da Rota.

Os promotores quiseram demonstrar que a tropa tem a fama de ser violenta. Afirmaram que no comando de Madia, que esteve dez meses à frente da corporação entre 2011 e 2012, a taxa de letalidade da Rota cresceu 20%.

Já a advogada fez perguntas para que Madia exaltasse a tropa. "Antes de matar, a Rota ajuda, a Rota prende, a Rota faz partos."

O tenente-coronel afirmou ainda que, ao entrar no pavilhão 9 na noite do massacre, viu combates entre presos e policiais nos corredores e passou por barreiras de corpos.

"Foi a maior adrenalina pela qual passei na vida", afirmou ele ao juiz. "O senhor pensa que naquela noite voltei para casa feliz e tomei um copo de sangue?"

Hoje devem acontecer os debates entre acusação e defesa. A sentença deve ser dada pela madrugada.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página