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Para evitar 'rolezões', dois shoppings fecham as portas

Encontros foram marcados por grupo de sem-teto e coletivos da periferia

Shoppings Jardim Sul e Campo Limpo foram esvaziados antes da chegada dos manifestantes

FELIPE DE SOUZA REYNALDO TUROLLO JR. SYLVIA COLOMBO DE SÃO PAULO

A ideia era prestar solidariedade aos "rolezinhos", os encontros de adolescentes da periferia nos shopping da cidade que têm assustado lojistas e donos de estabelecimentos. Porém, os dois "rolezões" marcados para ontem em dois shoppings, o Jardim Sul e o Campo Limpo, deram com a cara na porta.

Com medo de confusão, ambos estabelecimentos foram esvaziados e fecharam suas portas, antes de os manifestantes se aproximarem.

Os atos foram convocados pelo MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) e coletivos da periferia.

No Campo Limpo, funcionários colaram nas portas de vidro a liminar obtida na Justiça apenas uma hora antes, proibindo o evento e acionando a Polícia Militar.

De acordo com a decisão do juiz Alexandre David Malfatti, "embora sejam locais abertos ao público, [os shoppings] são empreendimentos privados, com destinação específica e voltados à atividade empresarial."

"Não se trata de via pública', não se constituindo em local próprio e apropriado ao exercício do direito de liberdade de reunião e manifestação", escreveu ele na decisão.

A sentença previa multa de R$ 5.000 a quem fosse pego participando do ato.

Por volta das 16h, de quatro a seis seguranças se posicionaram em cada uma das três entradas do shopping, e outros cercaram o edifício.

Enquanto isso, na estação de metrô ao lado, cerca de 500 pessoas se reuniam com instrumentos de percussão, bandeiras vermelhas e soltavam gritos de guerra.

A maioria era da ocupação Nova Palestina --a maior de São Paulo, com 8.000 famílias, no Jardim Ângela.

Ao mesmo tempo, no Jardim Sul, onde cerca de 500 pessoas se aglomeraram nas entradas do edifício, houve tumulto entre manifestantes e seguranças. A confusão acabou sendo contida pelos próprios sem-teto.

"Os jovens pobres e negros têm o direito de ir aonde quiserem. A polícia, os ricos dessa cidade foram brutos, e a periferia veio até aqui em solidariedade a eles." Com três amigas, todas da Nova Palestina, Simone Borges, 36, comandava os gritos de guerra na estação Campo Limpo.

O metrô parou por meia hora --segundo os seguranças, devido à falta de energia.

Diferentemente dos "rolezinhos" tradicionais, o público era variado: mulheres idosas, casais, crianças e trabalhadores que haviam acabado de sair do trabalho.

O "hit" do ato de ontem foi o grito: "Pisa ligeiro, pisa ligeiro, quem não pode com a formiga não atiça o formigueiro". Seria um recado para que outros shoppings não "discriminassem" os "rolezinhos", sob ameaça novos "rolezões populares".

Vez ou outra, sobrava até para o prefeito Fernando Haddad. "O povo na rua, Haddad a culpa é sua", gritavam alguns sem-teto.

Na semana passada, o prefeito afirmou que o terreno invadido onde está a Nova Palestina deveria virar parque --o que revoltou os sem-teto, que bloquearam vias da zona sul na sexta-feira.

Anteontem, porém, a prefeitura aceitou rever a posição em reunião com o grupo.

FREQUENTADORES

As manifestações irritaram clientes do shopping do Campo Limpo. "Isso é um absurdo, aguento sete horas de serviço e ainda não posso vir aqui comprar coisas que preciso?, disse Edmundo Santos, que tentava entrar no centro de compras.

Grande parte dos manifestantes do "rolezão" disse que vai a esse shopping com frequência, o mais próximo da Nova Palestina.

É o caso de Eliane Nunes, 34. "Às vezes vou para comprar, às vezes para comer", disse. "Acho que hoje o shopping ficou com medo de baderna. Mas desta vez não ia ter baderna", afirmou.

Já a balconista de padaria Luciana Santiago, 33, que mora na Nova Palestina, disse nunca ter ido ao local."Trabalho demais, mas acho que a maioria aqui vai, e vai para gastar."

Diante da porta fechada, os manifestantes interditaram a estrada de Itapecerica por cerca de 40 minutos e distribuíram pão com mortadela no meio da rua.

Sob o comando de uma jovem que subiu na grade, repetiram um discurso que dizia: "os donos de shoppings, os ricos desse país, precisam saber que não vão dizer onde nós, trabalhadores pobres, podemos entrar ou não."

Dois rapazes arremessaram duas latas de tinta preta contra o prédio, que sujou o chão e respingou na fachada. "Se não querem nossa cor, vão conviver com essa tinta", bradou a jovem.

De dentro do shopping, através de um vidro verde espelhado, homens de camisa, alguns de gravata, olhavam curiosos o "rolezão", filmavam e fotografavam com o celular o povo na rua.

O pão com mortadela também apareceu no Jardim Sul, onde foi apelidado de "x-rolezão". O estabelecimento não obteve liminar judicial, mas afirmou em nota que o fechamento foi necessário como "parte do plano de ações para garantir a integridade e segurança de seus clientes, lojistas e colaboradores".


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