Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Cotidiano

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Análise

Frases de Nunes são revelação

RUY CASTRO COLUNISTA DA FOLHA

Foi no salão de embarque de Congonhas, em 1996, num dia de muita chuva e aeroporto fechado. Micados durante horas entre milhares de passageiros que esperavam a Ponte reabrir, o grande humorista e seu fã passaram várias vezes um pelo outro, olhando-se mutuamente e ensaiando um flerte que nunca se resolvia --nenhum dos dois tomava a iniciativa de falar.

O humorista era Max Nunes; o fã era eu; ambos, tímidos. Até que um de nós abriu a boca e o outro, ao mesmo tempo, fez o mesmo. Pronto --estávamos conversados.

Soltei-lhe uma proposta à queima-roupa: que tal se me deixasse pesquisar o material com que, durante décadas, fizera o país inteiro rir por rádio, teatro de revista, cinema, jornal e TV, e reunir o melhor de seus diálogos, frases e achados em um livro? Max me olhou como se nunca tivesse pensado no assunto e todas as maravilhas que escrevera fossem para valer apenas enquanto estivessem indo ao ar --como se sua produção não merecesse estar ao alcance de quem não tivera o privilégio de ouvi-la em seu tempo. Mas, relutante, aceitou.

Finalmente, no Rio, Max e sua esposa, Nina Rosa, confiaram-me algumas pastas contendo velhos scripts de programas, recortes de jornais e originais datilografados. Não era sequer uma fração de toda uma vida de trabalho até então. Mas foi suficiente para gerar dois livros deliciosos, "Uma Pulga na Camisola - O Máximo de Max Nunes" (1996) e "O Pescoço da Girafa - Pílulas de Humor por Max Nunes" (1997), ambos pela Companhia das Letras. O primeiro saiu com orelha de Carlos Heitor Cony e um alentado posfácio por Sérgio Augusto; o segundo, com orelha de Janio de Freitas.

Lidas hoje, suas frases e tiradas serão uma revelação. No Brasil, o superestimado Barão de Itararé não lhe era páreo e, em quantidade e qualidade, Max só teria rival em Millôr Fernandes. Num mercado em que era "normal" plagiar os humoristas ingleses ou americanos, ele sempre foi de uma acachapante originalidade. A prova é que muitas de suas frases, pela hilariante observação de detalhes e pelo jogo de palavras usadas para defini-los, só eram possíveis em português.

Duvida? Eis algumas:

"Se o Brasil foi descoberto em 1500, por que continuamos de tanga?"

"A prova de que o trânsito está cheio de barbeiros é que não temos mais o forde-de-bigode."

"É muito fácil fazer linguiça: basta tirar a tripa de dentro do porco e botar o porco dentro da tripa."

"O porco só é nocivo a quem, em vez de comer-lhe a carne, come-lhe o espírito."

"O difícil de confundir alhos com bugalhos é que ninguém sabe o que são bugalhos."

"Duplicata é essa coisa que sempre vence. Nunca empata."

"Já foi o tempo em que a união fazia a força. Hoje a União cobra os impostos e quem faz a força é você."


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página