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Neuro

SUZANA HERCULANO-HOUZEL suzanahh@gmail.com

Coceira contagiosa

Voluntários assistiram, dentro de um tubo de ressonância magnética, a vídeos de pessoas se coçando

quase escrevi esta coluna sobre bocejo, mas acabei torcendo o nariz para o artigo que tinha me chamado a atenção -não sem antes bocejar uma boa dezena de vezes só de ler a palavra "bocejo" várias vezes seguidas.

Folheando o meu reservatório de artigos interessantes, deparei-me com um sobre outro comportamento contagioso: a coceira.

E não deu outra: ao final do primeiro parágrafo eu já estava sentindo uma necessidade incrível de coçar a cabeça, o rosto, a coxa, depois a outra perna... Como você, leitor, que já deve estar com alguma coceira pelo corpo.

Por que a coceira é contagiosa? Um grupo do Reino Unido se interessou pela questão e convidou 51 jovens a assistir, de dentro do tubo de um aparelho de ressonância magnética, a vídeos de pessoas coçando o braço ou tamborilando os dedos no braço, sem coçá-lo.

A diferença entre as duas imagens é pequena, mas o efeito é grande: a vontade de se coçar fica em média duas vezes maior após a pessoa ver alguém se coçando.

O cérebro explica. Assistir a alguém se coçando ativa as estruturas principais do "complexo da coceira", que são aquelas estruturas acionadas quando há de fato algo na pele provocando prurido, como histamina: o córtex, que representa as sensações da pele; o córtex pré-motor, que organiza movimentos; e o córtex da ínsula, que representa sensações fisiológicas do corpo. E tudo isso na ausência de qualquer modificação real na pele.

Ou seja: veja alguém se coçar e seu cérebro reagirá como se você de fato precisasse dar uma coçadinha também, com direito à sensação da coceira, ao incômodo associado e à preparação motora. Tudo por pura imitação.

E, quanto mais forte for a ativação do córtex pré-motor, que prepara a ação de se coçar e contém os "neurônios-espelho" que refletem em nosso cérebro as ações alheias, mais forte é a "necessidade" de você também se coçar.

A coceira é ainda mais contagiosa em algumas pessoas. No estudo inglês, a coceira sugestionada de alguns voluntários era até cinco vezes mais forte do que a dos outros. Esses mais sugestionáveis tendem a ser os voluntários com maior grau de neuroticismo, que é a tendência a emoções negativas.

Quanto maior o neuroticismo, maior a ativação do córtex pré-motor e maior a necessidade de se coçar -sem a menor necessidade.

Só mudando de assunto é que a coceira passa. Ainda bem que a coluna acabou!

SUZANA HERCULANO-HOUZEL é neurocientista, professora da UFRJ, autora do livro "Pílulas de Neurociência para Uma Vida Melhor" (ed. Sextante) e do blog www.suzanaherculanohouzel.com

NA PRÓXIMA SEMANA
Denise Fraga


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