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Gustavo Patu

Estelionato e herança maldita

Candidatos não dizem ao eleitor que as dificuldades orçamentárias podem levá-los a tomar novos caminhos

Intrigas e diatribes eleitorais à parte, todos os candidatos viáveis abraçam uma pauta mínima comum de diretrizes sociais, econômicas e políticas situadas nas diversas zonas cinzentas do ideário que vai da centro-esquerda à centro-direita.

O consenso, maturado ao longo dos sucessivos pleitos presidenciais, começa pela defesa dos programas sociais, de saúde, educação, amparo ao trabalhador e transferência de renda, que, além de intocáveis, precisam ser aperfeiçoados e ampliados, quase sempre com reforço orçamentário.

Desde o restabelecimento da democracia, o aparato da seguridade, de dimensões ímpares no mundo emergente, passou a ser a compensação pelo fim dos anos de expansão econômica acelerada do regime militar. Aceita-se crescer mais devagar, desde que haja crescente amparo estatal --e combater a desigualdade, afinal, implica transferir recursos dos setores mais produtivos para os menos.

Também parece consolidada a aceitação de regras básicas de gestão econômica, como o respeito aos contratos, a preservação do valor da moeda e, senão o equilíbrio, ao menos o cumprimento dos ritos formais do Orçamento.

Mesmo o governo Dilma Rousseff, leniente com a inflação e temerário com as contas públicas, esforça-se em manobras para dar aparência de normalidade aos números. Como a hipocrisia, não deixa de ser uma homenagem do vício à virtude.

Prega-se ainda a necessidade de uma reforma política que torne mais funcional o atual sistema. Ou, em termos mais concretos, que torne o Brasil menos difícil de ser governado, com redução dos custos da formação de coalizões com a miríade de partidos instalados no Congresso.

Dilma e seus principais adversários divergem na ênfase conferida às diferentes cláusulas da agenda comum. A presidente exibe o aumento do emprego e a queda da pobreza; Aécio Neves prioriza restaurar a credibilidade na economia; Marina Silva advoga um novo modelo de relações com os partidos.

O que não se diz ao eleitorado, por medo de perder votos, é que o desgaste do consenso centrista --a crescente dificuldade de convívio entre as demandas sociais e a saúde orçamentária-- pode forçar a busca de caminhos menos moderados à esquerda ou à direita.

Na campanha passada, Dilma alardeava estar demonstrada a possibilidade de combinar crescimento, estabilidade e distribuição de renda. Não estava: uma era de prosperidade global havia apenas adiado os impasses. Agora os petistas apostam no petróleo do pré-sal como quem espera um novo ciclo do ouro ou da borracha.

Por trás da recém-divulgada derrocada das contas do Tesouro Nacional, há disputas por benefícios, subsídios e direitos que não serão solucionadas pelo manual de boas maneiras --melhora administrativa, combate à corrupção, transparência-- exposto por Marina e Aécio.

A portas fechadas, emissários das campanhas falam em austeridade com homens de negócios, enquanto os presidenciáveis prometem redenção social aos militantes. Ora se enganam uns, ora outros.

Enquanto o debate é encoberto, as forças políticas que se revezam no poder trocam acusações de estelionatos eleitorais e heranças malditas. E, em geral, têm razão.


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