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Painel do Eleitor

MARCELO COELHO

'Hoje o pobre compra o que quiser'

Eleitora do PT desde 2002, cabeleireira ressalta programas do governo como o Bolsa Família

Afastado do centro de Embu-Guaçu (SP), o bairro é cheio de sítios de lazer. Uma placa branca, com o nome "Cláudia" pintado à mão em vermelho, indica para os clientes (ela é cabeleireira e trabalha na salinha de casa) o endereço de Claudecir Sampaio Fernandes Dinis.

Nascida em Ibotirama, na Bahia, há 40 anos, ela veio para São Paulo em 1993, trazendo duas crianças de um primeiro relacionamento. Uma filha ainda era bebê de colo, enquanto o menino mais velho, hoje com 24 anos, tem problemas mentais congênitos.

Cláudia, como prefere ser chamada, foi trabalhar com o irmão num posto de gasolina. A filha menor tinha ainda oito meses quando ela conheceu seu atual companheiro, Paulo, que vendia equipamentos de purificação de água.

Vieram mais três filhos, hoje com 15, 8 e 5 anos. Enquanto Paulo vende cosméticos e lingerie por várias cidades do Brasil, ela tira um rendimento variável (entre R$ 800 e 1.500 mensais) como cabeleireira.

O governo deveria dar mais ajuda a quem trabalha em casa, diz Cláudia, que enfrenta dificuldade em conciliar a vida profissional com a atividade de cuidar dos filhos. Durante dois anos, ela teve uma empregada para ajudá-la, mas agora não consegue mais achar ninguém.

"É até melhor", diz ela, porque crianças criadas com babá obedecem menos. Esperando a tintura secar, a cliente Tatiana concorda. "Hoje em dia a lei não deixa bater, dar bronca..."

Quando criança, Cláudia vendia sabão caseiro e geladinho na feira de sua cidade natal. Não recrimina a mãe, que teve 11 filhos. "Ela não explorava a gente, ensinava a ter independência."

Sua casa, muito pequena, fica no fim de uma rua de terra, encostada a uma área de proteção ambiental. Perto de uma horta incipiente, o cachorro Bob está amarrado a uma corda de náilon. Não é bom guardião, num lugar em que toda a vizinhança já foi assaltada. É mais do tipo caçador; às vezes, volta para casa com um pato entre os dentes.

A agência do Banco do Brasil em Embu-Guaçu, diz Cláudia, está em reforma há vários meses. É que os bandidos exageraram na carga de explosivos normalmente utilizada para abrir caixas eletrônicos na cidade, e as fundações do prédio ficaram abaladas.

Em matéria de política, as principais queixas de Cláudia se voltam contra a administração municipal: um pontilhão sobre a estrada de ferro está tendo de ser refeito, e o calçamento na sua rua não chega nunca. "Consta como asfaltada há dez anos", completa Paulo.

Na saúde pública, outras reclamações. "Como é possível uma cidade ter prefeitura e não ter hospital?" Para agendar consultas e exames com rapidez, só com padrinho político. "Mas todos pagam impostos", diz Cláudia, "e todos têm direitos iguais."

A exemplo do que faz desde 2002, Cláudia votará no PT nas eleições presidenciais. "Problema sempre tem em política", explica, mas "até uma casa dá dificuldade para administrar". A classe mais pobre conseguiu muita coisa nestes anos, diz Cláudia, citando o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida. Ela se beneficia do Minha Casa Melhor, que financia a compra de móveis e eletrodomésticos.

"Hoje o pobre pode comprar o que quiser", acrescenta. Frequentadora da Igreja Universal, Cláudia não considera que a religião deva influenciar o voto de ninguém. Não vê "firmeza" em Marina Silva: "Já foi do PT, foi do PV, tentou fundar o partido dela, entrou no PSB...".

Na sua igreja, a maior preocupação parece ser com os votos no Legislativo. Cláudia teme a vitória de deputados que "irão obrigar padres e pastores a fazer casamento gay". Acredita que mesmo os pais dos noivos serão obrigados a estar no casamento, sob pena de irem presos.

Quanto ao governo do Estado, acha que Geraldo Alckmin "já está na hora de ir". Pergunta se Celso Russomanno é candidato, até que se lembra: "Parece que esse Padilha é do partido da Dilma". Voto fechado.

Toca o celular de Tatiana. Ela acaba de ser aprovada para uma bolsa do Fenatec. Receberá R$ 300 mensais para aprender a ser auxiliar em creche. Perguntam-lhe se tem outro nome para indicar: Cláudia pega o telefone e passa os dados para se inscrever.


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