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Discurso de esperança de Obama vira pragmatismo após 4 anos

Capacidade de unir lados opostos não sobrevive a ambiente político radicalizado pela crise

Reforma da saúde e execução de Bin Laden são conquistas, mas economia ainda não recuperou seu fôlego

DA ENVIADA A CHICAGO

O terreno colado à casa de Barack Obama no bairro negro de Hyde Park, em Chicago, está à venda. Por trás de árvores que tentam tapar a visão da rua, ladeada por furgões do serviço secreto e com a placa da oferta à frente, a mansão de tijolos aparentes parece mais acanhada.

Já não há romaria, e, num fim de semana frio de outubro, poucos observam o lugar onde Obama viveu de 2005 (sua posse no Senado) a 2009 (a posse na Casa Branca) com a mulher, Michelle, e as filhas, Malia e Sasha. Passados quatro anos, a casa se misturou à paisagem local.

Em certo grau, o mesmo ocorreu com seu proprietário. Quatro anos após a histórica eleição que fez dele o primeiro presidente negro dos EUA, sob a promessa de unificar o país, Obama, 51, parece dissolvido no meio político e, portanto, mais mortal.

Embora a história ainda faça dele um produto notável da democracia americana, o instituto Gallup o põe como o mais polarizador dos presidentes do pós-guerra (ao lado de George W. Bush), dado o vácuo que separa sua aprovação na base e na oposição.

Do senador que encheu o país de esperança em 2008 pouco sobrou. Seus simpatizantes são menos apaixonados, e o próprio democrata abandonou o tom messiânico em favor do pragmatismo.

Os discursos ainda são afiados, mas pouco lembram a grandiosidade daquele da convenção democrata que o lançou ao Senado, em 2004. "Sim, nós podemos" tornou-se só "Adiante".

Não que sua base de apoio não seja sólida. A coalizão de minorias, jovens e mulheres que Obama forjou em 2008 continua a defendê-lo.

O que mudou foi o tom. Dos suspiros passou-se aos muxoxos ante a descoberta de que os problemas eram maiores que a habilidade política do presidente -foram só 12 anos do Senado local à Casa Branca- e a inflexibilidade da oposição.

O Obama que conquistou o imaginário com sua história familiar hoje pouco fala de sua trajetória pessoal.

A mãe (uma antropóloga branca do Kansas que o teve aos 18 anos) e o pai (um economista negro do Quênia que a conheceu em intercâmbio universitário e deixou o filho ainda bebê), ambos mortos, raramente aparecem nos discursos. Mesmo os quatro anos em que viveu na Indonésia na infância, com a mãe e o padrasto, ou a adolescência no Havaí, com os avós, merecem pouco espaço.

CONCILIAÇÃO

Nos últimos dois anos, a Folha ouviu ex-professores como Lawrence Tribe, da Escola de Direito de Harvard, e Eric Kusunoki, do colégio Punahou, em Honolulu; colegas, assessores e o principal biógrafo do presidente, David Remnick, autor de "A Ponte".

O retrato composto é de um sujeito conciliador, ensimesmado, calmo, seguro e às vezes até frio, mas cativante.

A capacidade de unir lados opostos, contudo, não sobreviveu a um ambiente político radicalizado pela crise.

Críticos colocam parte da culpa em Obama, que gastou seu capital político ao priorizar a reforma do sistema de saúde quando tinha maioria nas duas Casas do Congresso.

Embora seja um avanço para o excludente sistema americano, a versão que Obama obteve acabou irritando a oposição e decepcionando a base, que a julgou aguada.

Se não tirou o país da crise nem mudou radicalmente seu rumo (o sistema dos EUA não permite que o presidente o faça sem o Congresso), amealhou conquistas importantes.

Alem da reforma da saúde, resgatou a indústria automotiva americana da falência; promulgou uma lei que garante equiparação salarial às mulheres; devolveu à agencia ambiental americana seu poder regulador e reabriu o dialogo do país com o mundo.

Encerrou a impopular Guerra do Iraque e colocou a Guerra do Afeganistão na fase final. Ordenou a execução de Osama bin Laden.

Mas expandiu o uso dos aviões não tripulados que despejam bombas na fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão, com um índice de mortes civis crescente; não fechou a prisão de Guantánamo; não conseguiu avançar nas negociações para garantir que o Irã não produza uma bomba nuclear; e não promoveu a reforma imigratória.

Tampouco conseguiu devolver o fôlego à economia do país, embora a tenha recolocado de pé. Para isso, Obama pede quatro anos mais e joga com a expectativa de que a reeleição lhe dê o cacife político para dobrar a oposição.

Se vencer, será uma vitória menor do que a de 2008. Um produto não da esperança, mas do medo que entrincheirou os dois lados do espectro político do país.


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