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Clóvis Rossi
Dilma votaria por Obama
O democrata coincide com a brasileira ao defender no G20 estímulos à economia, e não austeridade pura
PARECE ESCANDALOSAMENTE óbvio que Dilma Rousseff votaria por Barack Obama nas eleições de hoje, se pudesse fazê-lo.
Menos pelo nível das relações bilaterais, que estão perto da excelência faz já algum tempo, e mais pelas instituições multilaterais.
Tomemos o caso do G20, o clubão das 20 maiores economias do planeta, que funcionou como a porta de entrada para o Brasil sentar-se à mesa dos grandes.
Nessa mesa, o Brasil, com Lula ou com Dilma, coincidiu com os EUA de Obama na discussão que ocupou as cúpulas mais recentes. Os dois países cansaram-se de dizer, com razão, que a austeridade pura e dura, defendida pela Alemanha, cria mais problemas do que resolve.
Por isso, ambos defenderam sempre os estímulos à economia, ou para içar da recessão os países que nela recaíram ou para fortalecer a débil recuperação dos demais.
A política interna de Dilma, aliás, é absolutamente coerente com essa pregação.
Na mais recente cúpula do grupo (Los Cabos, junho), prevaleceu a posição de Obama/Dilma, reforçada, naquele momento, pelo novo presidente francês, François Hollande.
O comunicado final explicita o que EUA e Brasil têm defendido, ao dizer que as economias avançadas "assegurarão que o ritmo da consolidação fiscal é apropriado para respaldar a recuperação", deixando as "preocupações com a sustentabilidade fiscal para o médio prazo".
Ou seja, a prioridade é a recuperação da economia, sem desprezar o arrocho fiscal que, no entanto, fica para mais adiante, quando a água da recessão já não estiver chegando à boca.
Se Obama perder, Mitt Romney mudará o foco dos EUA, alinhando-o aos ultraortodoxos, favoráveis a corte de gastos e alta de impostos, em vez de apostar em estímulos.
Logo, o Brasil ficará isolado, até porque seus pares dos Brics (Rússia, Índia, China e África do Sul) preferem um "low profile", deixando o palco principal para o mundo rico.
Pode-se até dizer que o G20 está perdendo importância porque só consegue produzir falatório, sem medidas concretas e coordenadas. Mas continua sendo, para o Brasil, o melhor palco para fazer-se ouvir.
O voto de Dilma por Obama não seria apenas pelo G20, mas também pela coincidência entre ela e Obama em torno do valor do multilateralismo. Com todos os defeitos que se possa apontar na política externa do democrata, o fato é que sua gestão desmontou o unilateralismo de seu antecessor.
Com Romney, ao contrário, seria elevada a probabilidade de voltar-se a uma política imperial. Afinal, faz apenas um mês, o republicano declarou que "é responsabilidade do presidente empregar o poder dos EUA para moldar a história".
É razoável supor que mesmo governantes de países pobres e fracos demais para se opor aos EUA ficarão muito incomodados com uma história "made in USA".
Imagine, então, uma presidente como Dilma Rousseff, nacionalista e líder de um país que tem ambições -viáveis ou não- de ajudar a moldar a história pelo menos da América Latina.
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