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Defesa de dono da Kiss 'distribui' culpa

Advogado de sócio da boate diz que casa, que havia modificado teto, esperava vistoria dos bombeiros desde novembro

Empresário teria usado chuveirinho para tentar se matar, anteontem, no banheiro do hospital onde está internado

LAURA CAPRIGLIONE ENVIADA ESPECIAL A SANTA MARIA

Distribuir a culpa entre todos os órgãos públicos ("confusos", "conflitantes", "contraditórios"), atacar os bombeiros que trabalharam no salvamento das vítimas ("foi uma operação desastrosa, ineficiente, uma desordem generalizada") e eximir-se de responsabilidade pelo uso de pirotecnia (fogos sinalizadores) no interior da Kiss foi a estratégia apresentada ontem por Elissandro Callegaro Spohr, o Kiko, 28, proprietário e gerente da boate sinistrada em Santa Maria, representado pelo advogado Jader Marques.

Pela primeira vez, apresentou-se a linha de defesa de Spohr. Na véspera, divulgara-se, a partir do hospital de Cruz Alta (a 130 km de Santa Maria), que o dono da boa-te,"desesperado" e "destruído" pela tragédia (os adjetivos são do corpo clínico), havia tentado se matar por enforcamento, aproveitando uma distração da segurança.

Ele teria se pendurado na mangueira do chuveirinho do banheiro, de acordo com o relato do hospital, mas foi contido a tempo.

Passou o dia de ontem algemado ao leito da instituição, onde se encontra desde segunda-feira, para tratar de problemas respiratórios decorrentes da inalação de fumaça do incêndio.

'NADA IRREGULAR'

Marques chegou à coletiva de imprensa, realizada em um hotel de Santa Maria, desqualificando a acusação de que a boate estaria funcionando sem alvará desde agosto do ano passado: "Isso foi apenas um problema documental", disse.

Segundo Marques, a boate havia sido inspecionada antes, "nenhuma modificação" fora feita depois disso, e desde novembro a casa estava à espera de uma nova vistoria do Corpo de Bombeiros, que aprovaria as instalações, como já aprovara antes.

"Nada havia de irregular", afirmou o advogado.

O problema é que, como teve de admitir o advogado, foi feita, sim, uma modificação importante no final do ano de 2012: a instalação de espuma de poliuretano, usada no isolamento acústico da boate -a Folha apurou, no entanto, que a instalação foi feita em agosto.

Foi essa espuma que, mais barata do que a modalidade não inflamável, entrou em combustão ao ser atingida pelos fogos usados pela banda, liberando cianeto e outros gases tóxicos, além de fuligem.

O isolamento acústico da boate era um problema que o Ministério Público do RS vinha acompanhando. Entre 2009 e julho de 2012, firmou-se entre a boate e a Promotoria um acordo que obrigou a Kiss a forrar tetos e paredes com um revestimento-sanduíche de gesso e fibra de vidro.

Mas, como o ruído persistia, Spohr teria consultado engenheiros e especialistas, dos quais ouviu a sugestão para instalar a capa de espuma por sobre o sanduíche.

Perguntado sobre os nomes dos engenheiros ou da empresa de engenharia que teriam dado tal sugestão, o advogado disse: "Não sei".

Segundo Marques, seu cliente só fez o que foi exigido pelo poder público e aconselhado por técnicos. "Kiko se declara incompetente nessas questões técnicas", afirmou.

LOTADA

O advogado negou que a boate estivesse com lotação superior à permitida (691), apesar de a Polícia Civil ter afirmado que havia por volta de mil pessoas na boate no instante do início do fogo.

De acordo com ele, a banda Gurizada Fandangueira, que acendeu o sinalizador, nunca antes havia se apresentado com seu espetáculo pirotécnico na Kiss.

Entretanto, há vídeos no YouTube, anteriores à noite do incêndio, que mostram a banda manejando fogos. "Isso foi na gravação de um clipe", esquivou-se o advogado.

Por fim, Marques arremeteu contra os bombeiros, elevando a voz: "Foi uma operação desastrosa, ineficiente: os bombeiros estavam sem máscaras e sem equipamentos adequados", disse.

Acusou o telefone de emergência do Corpo de Bombeiros de não atender a uma chamada feita por um funcionário da boate, logo depois do início do incêndio, e atacou: "Eles usaram civis nas tentativas de resgate, coisa que um bombeiro não pode fazer. Eles têm de fazer um mea culpa", afirmou.

"Meu cliente só cumpriu a lei e tudo o que o poder público e os técnicos determinaram. Ele estava confiante de que estava agindo corretamente, ou não teria permitido que sua mulher grávida permanecesse dentro da boate", disse o defensor.

A mulher de Spohr estava ontem com ele, no hospital de Cruz Alta.


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