São Paulo, sábado, 18 de setembro de 1999


 


PESQUISA

Universidade Johns Hopkins (EUA), em parceria com Iser (RJ), traça um perfil do setor voluntário no Brasil; não há consenso entre os especialistas sobre o assunto

Atividade voluntária é 8ª no ranking das maiores economias do mundo

ROGÉRIO EDUARDO ALVES
da Equipe de Trainees

Se fosse considerado uma economia independente, o terceiro setor, que abrange as organizações sem fins lucrativos, ocuparia a oitava posição no ranking das maiores do planeta. As entidades beneficentes movimentaram US$ 1,08 trilhão no mundo em 1995. E isso sem contar as instituições filantrópicas religiosas.

O que é o terceiro setor

Só no Brasil, o setor voluntário movimentou R$ 10,9 bilhões (cerca de US$ 11 bilhões), o equivalente a 1,5% do PIB nacional. Valor superior ao faturamento da maior empresa privada no país, a Volkswagen, que foi, naquele ano, de R$ 7 bilhões (US$ 7,2 bilhões).

PESQUISA
Esses números devem ser oficialmente publicados este mês. Fazem parte de uma pesquisa realizada pela Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, coordenada, no Brasil, pela professora Leilah Landim, do Iser (Instituto de Estudos da Religião), do Rio de Janeiro.
Segundo a pesquisa, o setor filantrópico apresentou um crescimento de 44,38% entre 1991 e 1995. Maior que o crescimento da economia brasileira, que foi de 19,86% no mesmo período.

Veja quais são os setores da economia
Quem atua Finalidade Setor
iniciativa privada pública 3 setor (organizações sem fins lucrativos)
iniciativa privada privada 2 setor (mercado)
poder público pública 1 setor (Estado)


Para o trabalho da Johns Hopkins/Iser, foram pesquisadas instituições não-religiosas de 22 países: Holanda, Irlanda, Bélgica, França, Grã-Bretanha, Alemanha, Espanha, Áustria, Finlândia, República Tcheca, Hungria, Eslováquia, Romênia, Austrália, Estados Unidos, Israel, Japão, Argentina, Peru, Brasil, Colômbia e México.
A falta de dados oficiais sobre o setor não permite um retrato instantâneo. A parte brasileira do estudo teve que tomar como base o último censo demográfico, de 1991, que foi atualizado por meio da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio) até 1995, data da pesquisa.
São 29 milhões de pessoas trabalhando (remuneradas e voluntárias) em organizações sem fins lucrativos ao redor do mundo. No Brasil, 1,45 milhão atua no setor, 23% como voluntários.

ÁREAS DE ATIVIDADE
A maioria (81%) da mão-de-obra ligada ao terceiro setor nacional distribui-se em quatro áreas de atividade: educação, saúde, cultura e recreação e assistência social (veja gráfico abaixo).
São áreas historicamente tradicionais na geração de postos de trabalho voluntário. Nelas, destaca-se a atuação das entidades religiosas na criação de instituições.
Entre 1991 e 1995, as áreas de educação e saúde, embora numericamente maiores quanto ao pessoal ocupado, cresceram menos que as demais. Houve um incremento de 29,3% na educação, e 17,9% na saúde. Abaixo da média do setor, que foi de 44,4%.
A pesquisa não explica essas variações. Elas pedem uma análise mais específica das áreas, que contextualize os dados e as políticas a eles relacionadas.

DOAÇÕES
O Iser encomendou ao Ibope uma pesquisa domiciliar sobre o volume de doações realizadas pelos brasileiros diretamente às instituições beneficentes. Foram entrevistados maiores de 18 anos residentes em cidades brasileiras com mais de 20 mil habitantes.
Os dados, ainda inéditos, mostram que as doações feitas em dinheiro diretamente a organizações filantrópicas no Brasil resultaram em R$ 1,1 bilhão em 1997.
Dos entrevistados, 21% dizem doar dinheiro diretamente para as entidades e 29%, bens materiais. Essa mesma pesquisa revelou que 16% dos indivíduos realizaram trabalho voluntário durante 1997.


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