|
|
PERSONAGENS
Instituições sem fins lucrativos adotam visão
empresarial: passam a procurar funcionários da iniciativa privada
com alta capacidade técnica para tornar sua administração
mais eficiente e voluntários especializados para doar trabalho
com hora marcada
Entidades beneficentes
buscam profissionalização
ALENCAR IZIDORO
da Equipe de Trainees
Em vez de depender apenas de pessoas que trabalhem de graça, organizações
sem fins lucrativos estão contratando profissionais qualificados
da iniciativa privada.
Doze pesquisadores e profissionais da área ouvidos pela Folha
apontam essa tendência, dizendo que, além de boa vontade,
é preciso capacidade técnica para ocupar as vagas que surgem
em fundações, institutos e ONGs.
Há quem conteste a existência dessa migração
de funcionários, com o argumento de que a maioria das instituições
ainda é de pequeno porte, e os salários, baixos (leia texto
na pág. 3).
Mas, das dez entidades beneficentes mais atuantes do Estado de São
Paulo, oito mantêm em cargos de direção ou administração
funcionários pagos que vieram do setor privado.
Existem vários administradores que largaram bons empregos
em empresas de primeira linha e foram para essas instituições.
Ganha-se um pouco menos. Mas isso é compensado pela sensação
de estar fazendo uma melhoria social, afirma o coordenador do curso
de administração pública da Fundação
Getúlio Vargas, Antonio Mendes de Almeida Júnior.
A chegada de profissionais a esse segmento da economia (o chamado terceiro
setor) é um dos sinais de adesão dessas instituições
às estratégias de mercado.
Assim como uma empresa, essas organizações necessitam de
especialistas para controlar finanças, recrutar profissionais (em
instituições, também recrutar voluntários)
e gerenciar projetos.
As entidades precisam de trabalho técnico de boa qualidade
para ter credibilidade junto aos patrocinadores. Não basta mostrar
que é idealista. Precisa mostrar resultado para a sociedade,
diz Rosa Maria Fisher, diretora do Ceats (Centro de Estudos em Administração
do Terceiro Setor) da Universidade de São Paulo.
Almeida Júnior exemplifica: Uma maneira de essas organizações
sobreviverem é a captação de recursos. Uma pessoa
que já tem experiência em empresas pode valer muito, pois
tem os contatos para fazer parcerias.
De acordo com Mário Aquino Alves, pesquisador do Cets (Centro de
Estudos do Terceiro Setor) da FGV, a migração desses profissionais
está ligada às possibilidades de gerar e manter empregos.
No terceiro setor, a introdução de novas tecnologias
não destrói postos de trabalho. O contato humano é
indispensável.
Isso não quer dizer que esses funcionários não sofram
perdas ao trabalhar em uma organização beneficente. Os salários,
por exemplo, costumam ser menores que os de empresas.
Estudo de David Alberto Beker Jordan, aluno de administração
de empresas da FGV, mostra que os salários de executivos do terceiro
setor no mundo tendem a subir, mas ainda são cerca de 15% a 25%
mais baixos que os da iniciativa privada. No Brasil, ainda não
existem dados consolidados.
Segundo Rebeca Raposo, diretora do Gife (Grupo de Institutos, Fundações
e Empresas), a remuneração varia muito. É certo
apenas que fundações e institutos, principalmente os ligados
a empresas, pagam mais que ONGs.
Ela ressalta ainda que a chegada desses profissionais ao terceiro setor
não significa que as instituições estejam se tornando
um refúgio de desempregados. É um mercado difícil
de entrar, principalmente em cargos mais altos.
Mesmo assim, há oportunidades em categorias que vão de administradores
a faxineiros, de advogados a atendentes.
A diretora do Gife cita como requisito para trabalhar na área o
senso de cidadania. Um profissional do terceiro setor deve possuir,
além da preocupação econômica, uma preocupação
social.
Raposo diz que a porta de entrada na área é a prestação
do serviço voluntário, que mostra o envolvimento com a causa
e é como as pessoas criam contatos.
|