São Paulo, sábado, 18 de setembro de 1999


 


DINHEIRO

Gráfica mantida por organização sem fins
lucrativos fatura R$ 150 mil por mês; o lucro
é aplicado em programa de educação

Mercado e lucro viram meta
de ONGs profissionais


NEY HAYASHI DA CRUZ
da Equipe de Trainees

Entidades filantrópicas que optarem pela profissionalização para atender melhor seu público irão se deparar com diversas possibilidades de atuação.
Uma delas é realizar atividades comerciais e investir o lucro em programas sociais.
Exemplo disso é a Laramara, fundada em 1991, que atende cerca de 350 deficientes visuais por mês em São Paulo.
A instituição, que não tem fins lucrativos, possui uma gráfica que faz serviços como impressão de folhetos e de bulas de remédios.

Cleo Velleda/Folha Imagem
Aluno da Associação
Rodrigo Mendes durante
curso de pintura para
deficientes físicos


O empreendimento tem um faturamento mensal médio de R$ 150 mil, e todo o seu lucro é investido em projetos sociais, como cursos de informática e de inglês adaptados às necessidades dos deficientes visuais.
Para Rosângela Barqueiro, consultora técnica da Laramara, iniciativas como essa são importantes não só para a instituição, mas também para quem quer ajudá-la. “Quem quiser contribuir não precisa fazer doações, basta utilizar a nossa gráfica.”

DIVERSIFICAÇÃO
Outro caminho da profissionalização é adotar serviços de telemarketing. Esse trabalho consiste em fazer com que algumas pessoas ligadas à instituição _voluntários ou funcionários contratados_ façam, por telefone, pedidos de doações.
A equipe de telemarketing da Laramara é composta por 32 pessoas. Todas elas são contratadas como funcionários.
Segundo Isabel Rodrigues, coordenadora de telemarketing da instituição, são feitas cerca de 3.000 ligações por dia, sendo que 600 resultam em doações. As pessoas contatadas, disse Rodrigues, são escolhidas na lista telefônica.
A coordenadora afirmou que os atendentes são orientados a não serem “apelativos” ao pedir doações e disse também que a instituição procura respeitar a vontade de pessoas que não querem contribuir. Mas, ainda segundo ela, uma mesma pessoa costuma ser contatada, em média, a cada três ou quatro meses.
A Laramara oferece um curso de telemarketing para deficientes visuais. Alguns chegam a ser contratados pela instituição. Hoje, a equipe conta com oito deles.
O atendente Marcelo Silva de Andrade, 23, é deficiente visual desde os 16 anos e trabalha no telemarketing da Laramara há um mês. É o seu primeiro emprego desde a perda da visão.
Andrade afirmou que só fala sobre a sua deficiência visual ao possível doador quando “existe uma abertura”. Ele disse que isso muda a atitude das pessoas, mas nem sempre é suficiente para convencê-las a fazer a doação.

CARTEIRA ASSINADA
O dinheiro arrecadado por esse tipo de iniciativa também está sendo utilizado pelas entidades assistenciais na contratação de profissionais que possam oferecer ao público atendido serviços de melhor qualidade.
Esses profissionais são pagos para se dedicar exclusivamente à entidade, ao contrário de voluntários que prestam serviços gratuitos e esporádicos.
A Associação Rodrigo Mendes oferece cursos de artes plásticas para deficientes físicos em São Paulo. Seus três professores têm carteira de trabalho assinada.
“Tivemos experiências com voluntários que não deram certo”, afirmou Sônia Mendes, diretora da associação que foi fundada em 1994 e só passou a contar com o trabalho de voluntários em 1996.
A remuneração também permite que os profissionais façam cursos de especialização para aprimorar suas habilidades. Com isso, as instituições podem contar com colaboradores cada vez mais bem preparados.


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