São Paulo, sábado, 18 de setembro de 1999


 


Religiosos são mais da metade da força de trabalho solidária

da Equipe de Trainees

Mais da metade (58%) dos voluntários no Brasil são ligados a alguma instituição religiosa, conforme pesquisa do Iser (Instituto de Estudos da Religião), feita pela pesquisadora Leilah Landim.

Otávio Dias de Oliveira/Folha Imagem
Marcelo de Andrade, deficiente visual, trabalha como atendente de telemarketing da Laramara


Segundo a pesquisadora Regina Novaes, também do Iser, é difícil obter dados sobre ação social dos grupos religiosos porque cada um tem suas próprias estatísticas.
A última pesquisa sobre trabalhos sociais da Igreja Católica foi feita em 1996, pelo Ceris (Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais). Naquele ano, 1.119 projetos sociais foram realizados no Rio de Janeiro, envolvendo 4.647 trabalhadores remunerados, 151 que vieram do governo e 11.592 voluntários. Foram atendidas 1.738.621 pessoas.

ESPÍRITAS
Em 1993, 94% dos 110 centros espíritas existentes no Rio de Janeiro prestavam algum tipo de assistência social, segundo dados fornecidos por Émerson Giumbelli, doutorando em antropologia social pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Giumbelli realizou pesquisa sobre a ação de instituições espíritas em trabalhos sociais no Rio de Janeiro, também pelo Iser.
Para o pesquisador, existe uma certa tensão entre a profissionalização dos serviços sociais realizados por casas ligadas ao espiritismo e os valores que levam os espíritas a fazerem trabalho social.
Giumbelli afirma que muitos espíritas se opõem à profissionalização do setor, porque dizem acreditar que ela contraria a tradição espírita de assistência aos mais necessitados.
Os dados sobre os evangélicos são os mais difíceis de obter devido à divisão das igrejas. Mas o trabalho com solidariedade faz parte da atuação dos integrantes das diversas denominações.
Para Regina Novaes, “os evangélicos afirmam que não é suficiente levar a palavra de Deus, mas também a sopa. Levam o remédio para o espírito e para o corpo”. Segundo ela, o que diferencia a solidariedade evangélica da católica é que esta tradicionalmente teve apoio estatal.

METODISTAS
Em 1998, a Igreja Metodista tinha 110 projetos sociais na Grande São Paulo, sendo dois de caráter regional e o restante de iniciativa de cada congregação, afirma a pastora Eloá Mara Peres Borges de Souza. Algumas igrejas têm projetos mais específicos, auxiliando pessoas de ruas, por exemplo. Outras distribuem remédios e cestas básicas. A estimativa é que 1.480 pessoas tenham sido atendidas pela igreja em 1998.
O padre Fernando Altemeyer, professor de teologia da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), critica o exagero na profissionalização do trabalho voluntário. Haveria o perigo de as obras sociais tornarem-se “cabide de emprego” para pessoas que não tenham “a alma do negócio”, o sentimento fraterno que motiva o voluntariado.
Segundo o estudo de Leilah Landim, as pessoas que fazem trabalho solidário remunerado em entidades religiosas perfazem 8,4% do pessoal empregado em entidades sem fins lucrativos no Brasil. Se todos os voluntários religiosos fossem remunerados, esse número subiria para 20% do total de pessoal assalariado nas instituições sem fins lucrativos.
(RUI DA SILVA SANTOS)


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