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Tati Bernardi

ESTRANHOS NO NINHO

Isso é coisa de pobre

Do meu sofá de plumas, vi a ZL ser invadida pelos mesmos que tanto me esnobaram

Eu morava bem pertinho do Parque São Jorge e adorava ir com meu pai a uma padaria em frente ao Corinthians, comer bombinha de chocolate. Um dia tive dor de barriga e alguém falou que era perigoso: só tinha mosca e malandro lá. Pararam de me levar.

Do lado da minha casa tinha uma fábrica que obrigava todos os funcionários a usar branco. Na hora do almoço, eles se espalhavam por uma pracinha e eu adorava ir lá com meu avô. A gente chamava de "praça dos branquinhos". Eu brincava que estava no céu e eles eram anjos. Um dia sumiu meu walkman e falaram pro meu avô que era perigoso: só tinha maconheiro e bandido lá. Pararam de me levar.

Eu era corintiana roxa até me colocarem numa escola de rico. A bailarina Mel, que andava no mesmo micro-ônibus escolar que eu, falou que era coisa de pobre e de sujo. Como eu queria os papéis de carta dela, parei de torcer pro Timão.

Em frente à minha casa, na fábrica da Philco Hitachi, toda hora tinha greve e o Lula comandava o povo. Ele gritava a frase "temos que lutar contra eles" e eu (que era magrela, estranha e sofria bullying) adorava. Minha mãe dizia: "O Lula é o cara" e por causa disso sempre votei no PT. Já faz uns quatro anos que minha mãe mudou de ideia: é coisa de radical e ignorante.

Hoje, moro num apartamento na zona oeste, cheio de cadeiras design e sais de banho. Do meu sofá de plumas de ganso, vi a ZL ser invadida pelas pessoas que tanto me esnobaram (até eu virar também uma esnobe insegura e sem identidade) e a presidente ser xingada. Chorei de tristeza e de vergonha, mas amigos falaram que ficar triste pela Dilma era coisa de idealista e feminista.

Não entendo nada de política e futebol. Tô mais perdida que a pomba da paz na abertura da Copa. Mas, como diria o Neymar, eu não quero ser o melhor, eu só quero que o Brasil ganhe.


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