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Xico Sá

Mais amor, menos pelada

Tem diminuído bastante o tempo que o macho normal brasileiro dedica ao seu clube do peito

XICO SÁ

AMIGO TORCEDOR, amigo secador, como diz uma vizinha de Copacabana, autêntica loiraça belzebu saída da galera de personagens do Fausto Fawcett, a melhor forma de avaliar o nível do futebol brasileiro é ver a quantidade de maridos acompanhando as suas digníssimas nas sessões de cinema domingueiras --em plena hora das peladas.

Ela cita o caso do seu próprio consorte, um reflexivo e entediado botafoguense que, mesmo nos momentos difíceis do time da estrela solitária, sempre estava no Maracanã e até mesmo em Volta Redonda. Agora nem na tevê. Prefere o cine Roxy, seja qual filme for. É capaz de assistir até a um impensável bang-bang nacional.

A loiraça é Flamengo e não carece nem listar os motivos pelos quais abandonou o rubro-negro. "Este ano um urubu pousou na nossa sorte", diz, citando o poeta Augusto dos Anjos. Confessa que nunca foi tanto ao cinema na vida. E acompanhada do bofe. "Amo essa ruindade em que se meteu o nosso futebol", faz troça. "Melhora os casamentos."

Pensando por esse filtro otimista, a vizinha está coberta de razão. Tem diminuído bastante o tempo que o macho normal brasileiro dedica ao seu clube do peito. Azar no jogo, sorte no amor.

Chega de domingos estragados por causa de uma derrota humilhante. Aqueles dias em que o sexo torna-se impossível. Domingões em que nem mesmo um carinho ou cafuné são viáveis na alcova.

Sim. A parada é científica. Com uma derrota dolorosa, o homem, segundo uma antiga pesquisa da Universidade da Geórgia (EUA), deixa de bombear testosterona no corpo. Então tudo fica como naquele clássico fofo do Wando: "Beijo tuas costas e nada/ caem dos meus olhos duas lágrimas geladas."

De acordo com a tese, o torcedor brasileiro, no geral, depois daquele inesquecível 7 a 1, anda mesmo de moral baixa. Não tem catuaba ou pílula azul que o reanime. Que fase, caro Milton Leite. Só resta aproveitar a onda para tornar-se mesmo um homem mais sensível. O cinema, como dizia Luiz Severiano Ribeiro, é mesmo a melhor diversão.

CABEÇÃO

Sem papo-cabeça, sem frescura, sem enrolação, de bate-pronto e com muita classe na consciência, o Ruy Cabeção, lateral direito do Operário, deixou a dica que ajudaria a mudar o futebol brasileiro nessa interminável e reflexiva ressaca do desastre da Copa do Mundo.

"Todos os jogadores que tenham vergonha na cara, das Séries A, B, C, D e os mais de 12 mil desempregados, deveriam primeiro fazer uma greve geral e depois pedir a saída desses dois senhores (Marin e Del Nero) e muitos outros da CBF", disse ele, um dos líderes do Bom Senso.

Rodado, conhecedor da "elite" e dos subterrâneos das divisões inferiores, o jogador sabe que somente com uma sacudida radical os boleiros mudariam o cenário de crise. Em vez das paradinha anteriores --simbolicamente importantes--, bola pro mato e braços cruzados.

@xicosa


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