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Crítica - Suspense

Repleto de citações sem coesão, filme vira um mero exercício de estilo

"Segredos de Sangue", estreia do diretor Park Chan-wook nos EUA, bebe na fonte de Hitchcock, mas é vazio de mistério

LONGE DE CASA E REGULADO POR UM SISTEMA MAIS RÍGIDO, O DIRETOR SUL-COREANO PERDE SEU IMPACTO E ORIGINALIDADE

CÁSSIO STARLING CARLOS DO CRÍTICO DA FOLHA

O título original de "Segredos de Sangue" funciona como chamariz para quem nutre fascínio por jogos de pistas falsas. Além de sobrenome da família dessa ficção, "Stoker" evoca obviamente o autor britânico de "Drácula", romance gótico de 1897.

Vampirismo é a primeira suspeita de maldição na história centrada em India (Mia Wasikowska), uma adolescente traumatizada com a morte violenta do pai e a aparição de um estranho tio de quem mal ouvira falar.

A partir daí, o desaparecimento das parentes, a torturada relação da garota com seus colegas e o mal dissimulado erotismo entre a mãe e o cunhado são situações que inserem os ingredientes sexo e morte no coquetel.

Há um tanto de crime no ar, outro tanto de culpa e desejo incestuoso, mas a explicação fica sendo adiada até o suposto final surpresa.

Antes de chegar lá, tropeçamos em outras tantas referências, nobres ou pops, espalhadas na intricada trama imaginada por Wentworth Miller, o bonitão tatuado da série "Prison Break", em seu primeiro trabalho como roteirista.

O recurso típico de estreante ajuda a chamar a atenção, provoca cintilações aqui e ali, mas não se distingue muito dos textos feitos com um amontoado de citações, pois nunca atinge um pouco de coesão.

Além da ascendência literária, "Segredos de Sangue" evoca o passado esteticamente respeitável do cinema por meio de constantes referências à obra do diretor Alfred Hitchcock.

A chegada de um tio enigmático, ao mesmo tempo sedutor e ameaçador, exclama até no nome Charlie o mimetismo dos personagens e situações de "A Sombra de uma Dúvida" (1943).

Uma cena de banho projeta fantasmas associados a "Psicose" (1960), enquanto a vacuidade do olhar emoldurado pela cabeleira loiro-ruiva de Nicole Kidman remete a "Marnie" (1964), e uma morte por estrangulamento reconstitui o método do criminoso de "Frenesi" (1972).

Tanta devoção a Hitchcock só se agrava com a direção do sul-coreano Park Chan-wook (de "Oldboy" e outras bizarrices), estreando em terras hollywoodianas.

O cineasta, que diz ter descoberto sua vocação para o ramo ao assistir a "Um Corpo que Cai" (1958), passa quase o tempo todo a construir climas, a intensificar o elemento visual.

Longe de casa e regulado por um sistema mais rígido, o diretor perde seu impacto e originalidade, resumindo-se a mero exercício de estilo.

Enquanto espera uma explosão de sangue --que nunca vem--, o público fica a contemplar cenas lindíssimas, mas vazias de mistério.


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