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Crítica - Teatro

Montagem transforma texto de Tchékhov em epopeia regional

MARCIO AQUILES CRÍTICO DA FOLHA

O novo espetáculo da Mundana Companhia, com direção de Georgette Fadel, propõe uma versão folclórica para "O Duelo", novela de Anton Tchékhov (1860-1904).

Encenada no subsolo do Centro Cultural São Paulo, local com reboque nas paredes e duas arquibancadas improvisadas, a peça aproveita-se da natureza volátil deste cenário para construir atmosferas distintas em cada cena.

Combinando períodos leves e trágicos, a montagem alterna passagens de festa --nas quais atores cantam, tocam e dançam espalhados pelo solo ou sobre andaimes-- com momentos dramáticos, mais íntimos, realizados com o elenco agrupado.

O cinzento do espaço é preenchido pela luz de Guilherme Bonfanti e pelo figurino vibrante de Diogo Costa, compondo um clima festivo, que remete às paisagens sertanejas por onde o grupo passou com ensaios abertos durante a preparação.

O aspecto visual chamativo, entretanto, não oculta graves falhas técnicas. Aparentemente, a equipe ignorou a acústica do local, e algumas cenas são inaudíveis. O mínimo que se espera da direção é que contemple a chegada do som à plateia.

Não bastasse a reverberação natural, às vezes Camila Pitanga estende demais a pronúncia das vogais no final das palavras, dando um efeito canhestro ao diálogo. Como Aury Porto, está melhor no gestual do que no verbal.

Pascoal da Conceição, por outro lado, prova mais uma vez por que é um dos atores mais talentosos do teatro brasileiro. Com sua dicção límpida e potente, supera os empecilhos do ambiente e compõe o personagem zoólogo com carisma e o vigor racionalista exigido pelo papel.

TEMPO MÍTICO

A companhia usa os 210 minutos do espetáculo para imergir lentamente os espectadores na história. Cria, com isso, um tempo mítico, que dá ares etéreos à montagem de forte tom regionalista.

Com esse projeto híbrido, que se equilibra entre as vertentes naturalista e simbolista, a Mundana transforma o enredo de amores, brigas e desavenças ideológicas do autor russo em uma epopeia ética com tempero brasileiro.


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