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Crítica drama

Com tensão permanente, 'Instinto Materno' se destaca ao apostar no poder dos sentimentos

CÁSSIO STARLING CARLOS CRÍTICO DA FOLHA

Num grande momento de cinema nesta Mostra, o documentário "Bertolucci por Bertolucci", o cineasta italiano justifica assim sua adesão ao melodrama: "É um gênero no qual aceitamos as paixões extremadas, além dos limites que lhes impomos na vida".

"Instinto Materno", vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim 2013, pertence a essa linhagem, a qual não teme exacerbar os sentimentos em busca de verdades que racionalmente nos escapam.

O centro desse terceiro longa do romeno Calin Peter Netzer é Cornelia, supermãe que mantém com o filho, adulto e casado, uma relação desgastada pelo excesso de controle.

Da primeira à última cena, Cornelia tentará dirigir os rumos de Barbu, impedir que seja processado e condenado pela morte acidental de um garoto, ocorrida numa imprudência ao volante.

Reduzido à trama, "Instinto Materno" pode ser confundido com um novelão. No cinema, esse pressuposto muda graças ao modo como as escolhas da direção esticam os fios e deixam o espectador suspenso num precipício.

Cornelia apresenta-se com um relato emotivo. Numa sucessão de cortes abruptos, passamos para uma festa de aniversário, em que a vemos solta e graciosa, e em seguida a um ensaio de ópera, seu ambiente de trabalho.

Com esses instantes comuns da vida, o filme configura o caráter emocional, material e social de Cornelia, representação dos valores de uma classe endinheirada numa sociedade pós-comunista.

A passagem seca de uma situação a outra ganha mais sentido quando uma ruptura introduz o acidente e concentra os confrontos que o filme desenvolve até o fim.

A câmera segue instável os rostos dos atores, nunca menos que ótimos, chicoteia de uma face a outra e constrói uma tensão permanente.

A imagem no formato scope, o tempo todo constrangida pelos limites de salas, cozinhas, banheiros, quartos, automóveis e delegacias, amplifica a claustrofobia, a impossibilidade de os personagens escaparem, de se libertarem nesses enquadramentos, embora largos, sufocantes.

Em vez de insistir na falência social, "Instinto Materno" opta por uma representação indireta e não menos reveladora da cisão material.

No confronto final, quando ricos e pobres, fortes e covardes são forçados a alcançar um equilíbrio, uma vaga ideia de justiça, "Instinto Materno" aposta as fichas no poder dos sentimentos. E ganha.


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