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Imagens de Luigi Ghirri são elogio à banalidade

Exposição em São Paulo reúne 200 trabalhos de fotógrafo italiano

Obra de artista que retratou clichês de seu país entre os anos 1960 e 1980 passa por uma redescoberta

SILAS MARTÍ DE SÃO PAULO

Um homem num posto de gasolina é retratado ao lado de seu Fiat à espera de um frentista ausente. Seu rosto aparece ao mesmo tempo de frente e de lado, por causa da longa exposição da fotografia. Pelo mesmo motivo, o céu no lusco-fusco da tarde vira uma mancha violeta densa.

Luigi Ghirri, fotógrafo italiano morto aos 49, em 1992, fez de sua obra um registro obsessivo dessa e de outras cenas que poderiam ser descritas --à primeira vista-- como banais ou descartáveis.

"Nas minhas fotos, os temas são do dia a dia", escreveu Ghirri. "Mas, isolados do contexto habitual, eles se revelam cheios de significado."

Esses significados, divididos entre o que chamou de ícones, paisagens e arquiteturas, ganham corpo agora na maior mostra do artista já feita no país, no Instituto Moreira Salles, em São Paulo.

São 200 imagens de uma Itália dos anos 1960 aos 1980, em que sujeitos aparecem chapados contra panos de fundo estridentes, com cores saturadas e pegada kitsch.

Embora muitos tenham a sensação de ver fotomontagens na obra de Ghirri, seu trabalho é na verdade a desconstrução de clichês da paisagem italiana padrão --seu olhar desancou o lugar-comum, contrapondo a estatuária clássica a playgrounds enferrujados e outros horrores do urbanismo pós-moderno.

"Ele queria olhar essa paisagem com objetividade e clareza, superando os estereótipos", diz Francesca Fabiani, uma das curadoras da mostra. "Não era mais a Itália de domos e catedrais, e ele olhava para essa falta de beleza e essa ausência de monumentalidade sem preconceitos."

Sua visão plural, aliás, ia do campo diminuto dos cartões-postais, retratados à exaustão por Ghirri, a amplas paisagens, de belas praias a montanhas e até palácios, além de interiores intimistas.

Todos esses espaços são fotografados em longas tomadas, que desaceleram o olhar e tornam as cores chapadas e intensas --o que Ghirri chamou de "segredo sutil" de imagens que sintetizam o repouso e o movimento.

Tem a ver com as imagens do norte-americano Stephen Shore, que também extraiu suas imagens acachapantes da banalidade suburbana.

Mas Ghirri não faz denúncias. Sua ode ao banal é uma crítica à fotografia viciada na falsa noção de originalidade, que exalta exceções em detrimento da beleza da regra.


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