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Crítica - Documentário

Cidade ganha olhar incomum em 'São Silvestre'

Diretora Lina Chamie registra São Paulo do ponto de vista do corredor e realça dimensão sensorial da metrópole

O FILME REPRODUZ RUAS QUE NO ANO INTEIRO NUNCA VEMOS, POIS SEMPRE AS PERCORREMOS SOBRE RODAS OU PELO METRÔ

CÁSSIO STARLING CARLOS CRÍTICO DA FOLHA

Algumas cidades inspiram em cineastas modos de vê-las que revelam mais que qualquer vivência ou viagem.

Assim como Nova York se mostra nos filmes de Woody Allen e Martin Scorsese, Paris nos de Jacques Rivette ou Hong Kong nos de Wong Kar-wai, São Paulo encontrou no cinema de Lina Chamie um olhar que mistura o corpo e a alma da metrópole.

No documentário "São Silvestre", a cineasta registra, a princípio, a célebre corrida que se realiza no último dia do ano na cidade.

De fato, o filme reproduz o percurso, as ruas e avenidas que no ano inteiro nunca vemos, pois sempre as percorremos sobre rodas ou nos subterrâneos do metrô.

Por algumas horas provisórias, a São Paulo que não pode parar cede espaço ao esforço atlético da multidão que dispara pela Paulista e cruza vias planas ou subidas que exigem muito fôlego para completar.

A primeira abordagem do filme é de identificação dos espaços, como um corredor solitário palmilhando o asfalto, projetando uma perspectiva que mesmo os pedestres pouco conhecem.

Nela, a velocidade e o ponto de vista do corredor devolvem à cidade uma perspectiva incomum, um olhar à altura do homem e outra relação com os espaços, quase sempre bloqueada pela carcaça dos automóveis.

A segunda abordagem cria uma situação ainda mais rara para o público de cinema, imóvel na poltrona. Chamie filma Fernando Alves Pinto, ator presente em seus três longas de ficção, como um participante da competição.

Como um avatar, o ponto de vista do ator conduz o espectador pelo percurso. A câmera presa ao corpo dele oscila, sente seu esforço nos trechos mais difíceis, molha-se na chuva e encharca-se de suor.

Nessa dimensão sensorial, a diretora introduz trilha musical de clássicos que amplificam a dimensão concreta das imagens, criando intervalos poéticos nas esquinas ou nos vãos livres entre os prédios.


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