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Crítica comédia

'Gloria' constrói personagem raro no cinema

Filme chileno tem como protagonista mulher madura sem questões muito maiores que uns drinques na pista de dança

RICARDO CALIL CRÍTICO DA FOLHA

Gloria tem 58 anos e está sozinha em um baile de Santiago, no Chile. Enquanto todos parecem se divertir à sua volta, ela apenas toma um drinque e observa o ambiente. Aos poucos, se sente tomada pela música, começa a cantar baixinho, a mexer os ombros.

Num estalo, Gloria invade a pista, paquera um velho conhecido, dança como se não houvesse amanhã. Mas, como o amanhã existe, ela vai embora, ainda sozinha, para trabalhar de ressaca no dia seguinte.

Esta é a primeira sequência de "Gloria", de Sebastián Lelio. E ela, de certa forma, antecipa o discreto encanto do filme chileno, seu desejo de acompanhar, com atenção e sem julgamento, um personagem que costuma passar despercebido no cinema.

A saber: uma mulher madura, de classe média-alta, separada, com filhos crescidos, trabalho estável, não particularmente bonita, sem uma história trágica ou heroica. Como a própria se define, uma mulher contente, que às vezes fica triste pela manhã, às vezes à tarde.

Ou seja, tudo aquilo que o cinema não considera sexy. E, ainda assim, Gloria pode, em um dado momento, ser sexy, ou espirituosa, ou profunda. Basta um tempo para observá-la --e este tempo o diretor nos oferece.

Antes uma crônica afetiva do que uma trama alinhada, o filme se detém sobretudo na tentativa de uma relação entre Gloria (Paulina García) e Rodolfo (Sergio Hernández), homem mais velho, sensível, recém-divorciado, mas sufocado por ex-mulher e filhas.

Gloria se apaixona pelo homem, mas não se submete à situação. Seu desejo de viver uma nova paixão tem limite. E aí está outro mérito do filme: sua protagonista não pode ser definida em uma frase simples.

Gloria não é uma mulher em busca de amor, não é uma mulher amargurada pela distância dos filhos, não é uma mulher que sobreviveu à ditadura chilena. No máximo, é uma mulher que precisa de uns drinques para quebrar tudo na pista de dança.

É preciso dizer que um filme de personagem como este só fica em pé com um grande intérprete. E isso "Gloria" também tem, na figura de Paulina García, ganhadora do prêmio de melhor atriz no Festival de Berlim e capaz de transmitir toda a invulgaridade de uma mulher comum.

Graças ao poder de observação de Lelio e a sutileza da interpretação de García, Gloria transforma-se ao longo do filme em um personagem singular, encantador, por vezes apaixonante. Dessa figura muito distante da "femme fatale", pode-se afirmar ao final: nunca houve uma mulher como Gloria.

GLORIA
DIREÇÃO Sebastián Lelio
PRODUÇÃO Chile, 2013
ONDE Espaço Itaú Pompeia, Pátio Higienópolis Cinemark, Reserva Cultural e circuito
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO bom


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