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Morre aos 66 Paco de Lucía, o revolucionário da música flamenca

Violonista espanhol que tirou o gênero tradicional do museu foi vítima de ataque cardíaco no México

GIULIANA DE TOLEDO DE SÃO PAULO

O violonista espanhol Paco de Lucía morreu ontem, em Cancún (México), em consequência de ataque cardíaco. Ele ficou conhecido mundialmente por revolucionar e popularizar o flamenco.

O artista brincava na praia com os filhos quando passou mal repentinamente e morreu a caminho do hospital, segundo familiares.

"Não há consolo nem para os que o conheciam, nem para os que o amavam sem conhecê-lo", disse a família do músico em nota.

Segundo os parentes, Paco "viveu como quis" e morreu "ao lado do mar". O espanhol, que teve cinco filhos, tinha 66 anos e era casado pela segunda vez.

O corpo do músico seria levado ontem para Algeciras, sua cidade natal, na província de Cádiz, no sul da Espanha, onde seria velado e sepultado. A cidade decretou três dias de luto.

Paco de Lucía, a partir dos anos 1960, revolucionou o flamenco, até então "uma música de museu", como dizia. Introduziu no estilo novas influências, como jazz, bossa nova, blues, salsa e pop. Apreciador da música brasileira, gravou com Djavan uma versão de "Oceano".

"Por que contar as coisas com dez palavras se você pode usar cem?", disse na sua última entrevista à Folha, em novembro, sobre a mistura de ritmos. "Abri uma porta para que entrasse ar, com muito respeito à tradição, mas não obediência, o que é muito diferente."

Naquele mês, o músico tocou em São Paulo, Rio e Porto Alegre, após 16 anos sem vir ao país --"porque é muito longe", justificou ele, acostumado a viajar pela Europa.

Na passagem pela capital gaúcha, aproveitou para assistir a um show do violonista Yamandu Costa que, ao final, conversou com o colega no camarim.

"Ele se aproximou de mim de uma forma muito espontânea. Deu uma olhada no meu violão e conversamos sobre instrumentos, seu repertório", lembra Yamandu.

"O violão está de luto no mundo. Seu legado não morre. Ele conseguiu levar a música do lugar dele para o mundo, como o Tom Jobim fez com a música carioca ou o [Astor] Piazzolla com o tango", diz o gaúcho.

O impulso inicial da carreira de Paco foi dado por seu pai, Antonio Sánchez, que cantava flamenco e o obrigou a aprender violão.

Francisco Sánchez Gómez --seu nome de batismo-- formou aos 12 anos um dueto com o irmão Pepe nos vocais.

Aos 15, já colaborava em gravações em Madri, por vezes sem ganhar crédito nos álbuns. Na capital espanhola, conheceu Camarón de la Isla (1950-1992), maior expoente do canto no flamenco moderno, com quem fez suas principais parcerias.

Apesar da técnica apurada, Paco dizia não gostar de fazer exercícios tradicionais no violão. "Isso é muito chato, me deixa nervoso, me perturba", contou à Folha.

O espanhol, no entanto, era rigoroso: antes de shows, aquecia as mãos no instrumento durante duas horas.

Já em casa, preferia relaxar. "Quando fecho a caixa do violão, a última coisa que quero é que falem comigo sobre isso", contou, rindo.


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