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Crítica - Comédia romântica
Filme só faz sentido para quem nunca se relacionou com o mundo de verdade
SÉRGIO ALPENDRE COLABORAÇÃO PARA A FOLHAAté pouco tempo, a comédia romântica representava uma espécie de reserva de dignidade dentro do cinema comercial americano.
Era um gênero de filmes que, mesmo quando insatisfatórios, não envergonhavam a linhagem estabelecida com "A Loja da Esquina" (1940), de Ernst Lubitsch, e popularizada com "Harry e Sally "" Feitos um para o Outro" (1989), de Rob Reiner.
"Namoro ou Liberdade" é de outra linhagem. Aquela pensada unicamente para celebrar as virtudes da monogamia e da ideia de príncipe encantado (não à toa o filme-referência é "Jerry Maguire", um adoçante de bistrô).
Os casais enamorados --de preferência heterossexuais, pois o gênero respeita a condição patriarcal da sociedade-- vão ao cinema e saem acreditando no amor eterno.
Na trama, vemos três amigos que, movidos por desilusões amorosas e por um princípio hedonista, resolvem celebrar a galinhagem como principal meta de suas vidas.
Mas com meia hora de filme já sabemos que o destino final dos personagens é a união com o sexo oposto, que homens só se completam com mulheres, e vice-versa. Incluindo aí os medos e patologias inerentes à heterossexualidade masculina segundo esse tipo estereotipado.
Isso não é um problema em si, pois é regra no gênero essa previsibilidade, e também a maneira de lidar com estereótipos do macho e da fêmea (a fêmea ideal tem de ser entusiasta do modo de vida masculino, jogar videogame e falar palavrões... uau!).
O problema ocorre quando os mecanismos escolhidos para se mostrar tamanho determinismo emocional são os mais simplórios, como se acompanhássemos o destino de ratinhos de laboratório submetidos a algum teste de comportamento.
Nesse terreno estamos muito distantes dos testes explorados pelo falecido Alain Resnais em filmes como "Meu Tio da América".
Nesse caso, o racionalismo não impede a verdadeira emoção. Resnais, afinal, filma seres humanos com toda complexidade. Em "Namoro ou Liberdade", o que temos? Emoções pré-fabricadas. Reações de cartilha que só fazem sentido para quem nunca se relacionou de verdade com o mundo.