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Crítica - Docudrama

Drama real recriado com improvisação retrata rejeição social no Leste Europeu

ALEXANDRE AGABITI FERNANDEZ COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Em dezembro de 2011, o diretor bósnio Danis Tanovic leu em um jornal sobre o drama de uma cigana, vítima de um aborto espontâneo, que teve o tratamento recusado pelo hospital por não ter dinheiro ou plano de saúde.

Indignado, Tanovic decidiu levar a história às telas, com seus reais protagonistas: a dona de casa Senada Alimanovic; seu marido Nazif Mujic, catador de sucata, e as duas filhas do casal.

Ditado pela urgência, feito com poucos recursos, sem roteiro e muita improvisação, "Um Episódio na Vida de um Catador de Ferro-Velho" traça um retrato sem concessões das mazelas do capitalismo no Leste da Europa, em que os direitos humanos mais elementares são violados.

Sóbrio e intenso, o filme ganhou o prêmio do júri no Festival de Berlim e Nazif Mujic levou o de melhor ator.

Depois de descrever a rotina da família --Nazif recolhe sucata para vender e lenha para aquecer a modestíssima casa, enquanto Senada realiza tarefas domésticas--, vem a irrupção do drama.

Com fortes dores, Senada corre risco de morrer caso uma cauterização não seja feita. Começa a odisseia do casal, na forma de um "road movie", pois os numerosos deslocamentos ao hospital são feitos no carro caindo aos pedaços de Nazif.

Nessas viagens, ficam patentes os contrastes entre a aldeia miserável onde vive o casal, tomada por um ferro-velho, e a cidade, com suas usinas nucleares e seus hospitais privados.

À solidariedade dos vizinhos do casal se contrapõe a frieza do pessoal médico e administrativo, que condena Senada à morte ou à fraude.

As referências à Guerra da Bósnia (1992-1995) reiteram a ideia de um país cindido pelo preconceito e pelos problemas econômicos.

Soldado no conflito, no qual perdeu um irmão, Nazif diz que sua vida é pior do que naquela época, pois então lutava por um ideal, enquanto agora vive para não morrer de fome. Transformou-se em sucata humana.


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