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Juçara Marçal abre ferida em disco solo

Cantora paulistana lança primeiro álbum com interpretação agressiva e repertório assombrado pelo tema da morte

Integrante do trio Metá Metá faz show em SP em abril; 'Encarnado' pode ser baixado gratuitamente em site

RAMIRO ZWETSCH COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Uma mulher que canta com sangue nos olhos e faca nos dentes: essa é a sensação que Juçara Marçal provoca em "Encarnado", seu primeiro disco solo. Integrante do trio Metá Metá e do grupo vocal Vésper, ela acumula mais de 20 anos de carreira e há tempos arrebata ouvintes por dispensar aquele polimento na voz tão fundamental às divas.

Os arranjos do disco são construídos quase totalmente a partir das guitarras de Kiko Dinucci e Rodrigo Campos (ambos compõem o quarteto Passo Torto, com Romulo Fróes e Marcelo Cabral), com a rabeca de Thomas Rohrer, além de participações pontuais de um sax (tocado por Thiago França) e um cavaco (também de Rodrigo Campos) --nada de baixo ou bateria.

"Venho experimentando este jeito mais agressivo de cantar desde o primeiro disco do Metá Metá e isso ganhou mais relevo neste trabalho: exploro um timbre mais rasgado no agudo, mordendo o texto, berrando em várias alturas. Acho que tudo isso dá essa sensação de faca no dente", diz a cantora.

"O fato da voz estar muito colada ao raspado do toque das guitarras afia ainda mais essa lâmina. Não tem o gravão do baixo, do bumbo da bateria. Toda a instrumentação varia entre o médio e o agudo, essa região que a gente associa inevitavelmente ao cortante, ao pontiagudo."

Juçara abre um pouco mais a ferida na escolha do repertório, com composições de Tom Zé, Itamar Assumpção, Romulo Fróes, Gui Amabis e outros. A morte é uma assombração constante nas letras.

"Ciranda do Aborto" (Kiko Dinucci) trata do incômodo assunto do título; "Velho Amarelo" (Rodrigo Campos) começa com os versos: "Não diga que estamos morrendo /Hoje não"; "A Velha Capa Preta" (Siba) explora a morte na forma de esqueleto e foice em punhos; e "Damião" (Douglas Germano) evoca vingança a Damião Ximenes Lopes, morto por espancamento em 1999, na Casa de Repouso de Guararapes (CE).

"Quando o repertório ficou pronto, vi que havia esse mote. Não me surpreendi", diz.

Essa tríade --jeito agressivo de cantar, instrumental baseado nas guitarras, morte como tema recorrente --aproxima "Encarnado" do rock, mas não basta para enquadrar a obra em um gênero.

"É um disco de canção. Se é rock, se é samba, se é MPB, aí já não consigo ver encaixe duradouro", diz. "Tento sempre ir até o osso da canção para achar algo na forma de tocar e cantar que se ligue a ela de uma maneira vital. Como se achado aquele detalhe, ela não pudesse mais viver sem aquilo. Testo os tons e a inflexão das palavras."

Lançado há um mês na internet, "Encarnado" está disponível para download gratuito no site da artista. Já foi baixado por 10 mil pessoas. Ela lança o CD, em tiragem limitada a 500 cópias, em show em abril no Sesc Vila Mariana.


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